quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

QUEM MARCA A AGENDA? QUEM GANHOU A NOITE ELEITORAL?

dn2412006.jpgAlém da vitória de Cavaco Silva para a presidência da República, os jornais trazem notícias do candidato que ficou em segundo lugar e das audiências.

Ontem, com a argúcia habitual, Miguel Gaspar (Diário de Notícias) interrogava-se como fora possível a televisão optar por "dar a intervenção de José Sócrates em detrimento da de Manuel Alegre". A "opinião" do jornalista do Diário de Notícias partia da crítica de Ricardo Costa, da SIC, relativamente à opção editorial do próprio canal (quando Alegre falava, no ecrã surgiu a declaração de Sócrates). E acabava afirmando: "A questão de fundo é saber quem tem o poder de fixar a agenda. Sobretudo quando o directo impõe o seu critério".

Ora, quem marca a agenda, seguindo os estudos clássicos de teoria da notícia, são os agentes envolvidos na acção. Como há três agendas principais - pública, política e mediática -, e tal inclui políticos e jornalistas, a "condução" pode ser feita ora por uns ora por outros. A que se acrescenta que o directo televisivo exige uma opção imediata, muitas vezes não reflectida. O editor do canal de televisão escolhe rapidamente e não pode voltar atrás.

A meu ver, houve tão só uma decisão baseada no valor-notícia, ou seja: o que é mais importante quando dois actores sociais (políticos) decidem falar quase em simultâneo? O corpo principal da página do jornal (texto assinado por Filipe Morais e Sónia Correia dos Santos) contém esses elementos. Miguel Gaspar preferiu ir noutra direcção, de maior problematização para o interior dos próprios jornalistas, interrogando.

publico2512006.jpgOntem ainda, os jornais faziam referência às audiências de domingo. No Diário de Notícias, por exemplo, escrevia-se que a "RTP1 ultrapassa SIC mas não destrona TVI" no share total. E o filme 007 - morre noutro dia e o programa das presidenciais na TVI tinham sido os programas com maior audiência.

Resposta hoje editada no Público por António Luís Marinho: a RTP ganhou a noite das presidenciais. No artigo que aparece na página dos media daquele jornal (sem indicação de se tratar de texto de opinião mas apontando para o cargo de director de programas do canal público), Marinho afirma que a TVI só começou a noite eleitoral a partir das 20:00, pois até então aquele canal privado transmitia um filme, "que, aliás, cortou precipitadamente, antes do final, para iniciar a transmissão da noite eleitoral".

Cada jornal tem os seus critérios editoriais. Contudo, parece-me muito mais correcta a forma como o Diário de Notícias trabalhou ontem os directos das televisões, deixando um gráfico (a partir de dados da Marktest) para se analisar os picos de audiência, do que incluir hoje, como faz o Público, a opinião do director de um dos canais. Se não houver publicação de textos dos directores de informação dos outros canais de sinal aberto, o texto de hoje parece-me de promoção comercial, a merecer a atenção do provedor do leitor do jornal.

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