terça-feira, 1 de maio de 2007

O FILME SOBRE PIAF

Protagonizada por Marion Cotillard e realizado por Olivier Dahan, o filme La vie en rose (título original La Môme, de 2007) retrata a vida da cantora francesa Édith Piaf (1915-1963, nascida como Édith Giovanna Gassion).


Tensão entre liberdade pessoal (ou vadiagem ou ausência de regras) e trabalho intenso, liderado por um agente musical (ou amante), Piaf viveu sempre dominada por personalidades fortes, sempre pensando em benefícios financeiros próprios. As regras funcionavam mal com ela ("sempre cantei assim"), ela que saltara, ainda na infância, de uma avó que não cuidava dela a outra avó que detinha a propriedade de um prostíbulo até acompanhar o pai, circense e saltimbanco. Ou a reprodução social e cultural - aproximação à mãe, Line Marsa, ela própria cantora em cabarés; abandono da sua filha, Marcelle, morta por meningite com apenas dois anos de idade.

O filme mostra a vida de uma mulher infeliz, morta antes dos 48 anos, consumida no uso de droga (como morfina, explicada para atenuar dores de reumatismo) e bebida. Mas também uma mulher decidida, que fala de si mesma nas canções que interpreta, e irascível, com comportamentos de vedeta num star-system crescente, em especial nos Estados Unidos, onde adquire fama quase tão elevada como na sua França natal. Mas o filme - da infância à desolação pela morte de Marcel, a sua grande paixão, por acidente de aviação nos Açores, e ao seu próprio desaparecimento, com imensos flashbacks - não é um grande filme, estando eu de acordo com as críticas que li. No filme, falta a observação da importância do peso da sociedade - a guerra mundial destruira a França -, fulcral no desenvolvimento dos indivíduos. Possivelmente, o problema do filme reside não tanto nos planos filmados como na montagem, às vezes displicente e com interligações deficientes.

Piaf iniciou a sua carreira aos 15 anos, cantando especialmente em cafés e na rua. Dona de uma voz singular, rouca e quente, notabilizou-se com canções como Je ne regrette rien e La vie en rose. Participou também em filmes, operetas e teatro, caso de uma peça escrita por Cocteau [dados biográficos da cantora no sítio Édith Piaf, de J.M.Smethurst, de onde retirei a imagem ao lado].

De Édith Piaf, da môme Piaf, havia, em mim, uma memória da rádio, do sortilégio da sua voz ouvida na rádio. A rádio, para mim, é um repositório de conhecimentos musicais como a MTV é para a geração a passar na universidade por esta altura. Do mesmo modo que a minha adolescência seria marcada pela passagem televisiva tardia de Judy Garland, em Over the rainbow.

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