Fernando Pernes, primeiro director artístico da Fundação de Serralves (1987-1996), faleceu este fim-de-semana. Com 74 anos, dedicou toda a sua vida ao ensino e à crítica de arte.
Recordo-me dele, no começo da década de 1980, num curso livre sobre arte contemporânea. A sua leccionação era invejável, dados os conhecimentos que transmitia aos seus alunos. Da sua vasta e interessante obra, destaco Panorama da Cultura Portuguesa no Século XX, em três volumes, por si coordenada e editada pela Afrontamento.
Actualização (6.10.2010, às 19:26) - o jornal Público na edição de 6 de Outubro traz um artigo assinado por Luís Miguel Queirós, O crítico discreto a quem o Porto deve o seu museu de arte contemporânea, onde se escreve: "Natural de Lisboa, Pernes completou os seus estudos de arte em França e Itália, como bolseiro da Fundação Gulbenkian, tendo frequentado na Sorbonne os cursos do historiador e crítico de arte Pierre Francastel (1900-1970), tido como um dos fundadores da sociologia da arte. Estudou depois, em Roma e Florença, com Giulio Carlo Argan (1900-1992), cujas obras sobre a arte medieval e renascentista são ainda hoje uma referência. Segundo o referido comunicado da Fundação de Serralves, Fernando Pernes iniciou a sua actividade como crítico de arte na revista Vida Mundial, tendo depois colaborado em muitas outras publicações, como O Tempo e o Modo ou, já no início dos anos 70, a Colóquio-Artes, então dirigida por José Augusto-França. Da geração de críticos surgida nos anos 60, à qual pertencem também nomes como Rui Mário Gonçalves ou Sílvia Chicó, a relevância do seu trabalho foi reconhecida ainda nessa década, tendo-lhe sido atribuído, em 1965, o prémio de Crítica de Arte da Gulbenkian. [...] Antes do 25 de Abril de 1974, Pernes foi ainda presidente da secção portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte e integrou a direcção da Sociedade Nacional de Belas-Artes, onde criou uma galeria de arte moderna e promoveu cursos de história de arte. Em 1973, radicou-se no Porto, que passará desde então a ser a sua cidade. Foi professor da Faculdade de Belas-Artes, responsável pelo suplemento de arte e cultura do Jornal de Notícias, e teve ainda cargos na RTP, logo após a revolução. Mas o seu grande objectivo, a partir de meados da década de 70, é dotar o Porto de um museu de arte moderna. Começa a lançar as bases desse projecto logo em 1975, quando assume a direcção do Centro de Arte Contemporânea (CAC) do Museu Nacional de Soares dos Reis. «Traz exposições da Gulbenkian e faz ele próprio uma programação muito importante», diz João Fernandes, que vê estes anos do CAC, entre 1975 e 1980, como «um excelente prefácio ao que veio a ser o Museu de Arte Contemporânea» de Serralves. Dos colaboradores com que Pernes pôde contra neste período, João Fernandes destaca Etheline Rosas, «uma pessoa com muita experiência, que trabalhara no Brasil com Mário Pedrosa, o fundador da Bienal de São Paulo». Em 1979, Pernes integra a Comissão para a Instalação do futuro Museu Nacional de Arte Moderna, que daria origem à Fundação de Serralves, da qual se tornou, como era justo e previsível, director artístico, cargo que manteve até 1996, quando foi substituído por Vicente Todolí".
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