terça-feira, 30 de março de 2004

DENIS MCQUAIL EM LISBOA

McQuail, conforme já escrevi aqui, está em Portugal, para promover o seu livro Teoria da Comunicação de Massas, editado o ano transacto pela Gulbenkian. Entretanto, cumpre um programa de conferências. Hoje, esteve na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, a convite do Centro Media e Democracia, sediado naquela escola.

Amanhã, McQuail desloca-se a Coimbra. Na quinta-feira, falará sobre "The power of mass communication in a global information society: the lessons of media theory", na Gulbenkian. A sua produção literária mais recente inclui o livro Media Accountability and Freedom of Publication, de 2003, e The Media in Europe: The Euromedia Handbook, de 2004, de que são editores, para além de McQuail, Mary Kelly e Gianpietro Mazzoleni (Editor). O capítulo sobre Portugal foi escrito por Manuel Pinto e Helena Sousa, dois professores da Universidade do Minho. Foi com base no primeiro destes livros que McQuail falou hoje de manhã para um auditório de especialistas e interessados.

O que disse McQuail

Referiu a importância da televisão e das notícias, elemento crucial para a formação da opinião pública. Colocou os noticiários dentro da indústria, isto é, da programação. Destacou, sincrónica e diacronicamente, os diferentes componentes das notícias: desde o jornalismo objectivo à interpretação e análise, do peso das entrevistas até à importância da vox populi. E referiu ainda a informação prática, a propaganda e o entretenimento.

Ora, os canais e as redes televisivas têm dado visibilidade às figuras políticas, no sentido de exercer influência sobre a opinião pública. Para McQuail, esta notoriedade é mais identificada a partir dos anos de 1990, com o aparecimento ou expansão dos canais comerciais. Contudo, estes enfrentam dificuldades acrescidas - caso da concorrência, problemas associados de publicidade e finanças. Aparecem alternativas em termos de fontes e notícias, como a internet. O que conduz a audiências mais fragmentadas. E, em simultâneo, ou por causa disso mesmo, há uma "popularização" dos conteúdos (tabloidização, entertainment e notícias leves). Mas, assegura McQuail, não existe uma percepção simples da evidência da perda da qualidade das notícias.

Um dos conceitos mais desenvolvidos pelo autor inglês, antigo professor da Universidade de Amsterdão, foi o de frame (ou framing) [quadro/enquadramento]. Ele questionou o papel do gatekeeper [tema que desenvolvi no meu weblog Teorias da Comunicação], dada a importância da selecção do que é escolhido como notícia. Assim, o enquadramento das notícias torna-se o principal paradigma para compreender os processos de decisão e para compreender o modo correcto ou tendencioso (bias) como são produzidas e emitidas as notícias. O frame não diz respeito a apenas a uma notícia em si mas também aos temas em discussão. Hoje, o frame [que aparece em McQuail muito próximo da agenda] é o terrorismo (e, em Portugal, acrescento eu, o caso da Casa Pia), com critérios específicos como a relevância e a actualidade. Ora, o frame muda de tempos em tempos.

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