segunda-feira, 22 de março de 2004

TELEVISÃO INTERACTIVA EM SEMINÁRIO

Decorreu hoje, nas instalações da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa, e organizada por esta associação e o Obercom (Observatório da Comunicação), um seminário internacional intitulado “Televisão interactiva: avanços e impactos”. O seminário teve sessões dedicadas à tecnologia, conteúdos, aplicações e mercados, mas notou-se uma contaminação tecnológica em todo o seminário. Por um lado, os standards ainda não estão totalmente definidos; depois, porque concorrem plataformas distintas com objectivos e resultados distintos.

Tecnologias e marketing
Um dos intervenientes frisou a importância da televisão interactiva em termos sociais, que pode ser tão elevada como teve a televisão há 50 anos, embora houvesse quem manifestasse dúvidas quanto a uma maior interactividade. Daí que se comentasse estarmos já não na era do audiovisual mas na do multimedia interactivo. Em que muda a nossa relação com o ecrã de televisão, a qual se aproxima do modo da ligação ao computador. Advogou-se ainda que a televisão interactiva será mais do domínio do consumo individual e não do consumo familiar.

Curiosamente, a interactividade na televisão ainda está num conjunto pequeno de domínios, conforme confirmou o representante de um operador de televisão: 1) rede móvel, com SMS, MMS e vídeo, 2) teletexto, 3) rede fixa, 4) internet, 5) plataforma digital da PT. A televisão interactiva alargar-se-á, entretanto, para os jogos e os brinquedos, num prolongamento do que me parece ser a evolução lógica de mercado perante os seus públicos-alvo. Quando os indivíduos deixam de ser crianças, desenvolvidas num ambiente de jogos electrónicos, e se tornam adultos, com poder de compra e de decisão sobre o que compram, tendem a procurar produtos semelhantes aos que consumiam, mas agora na televisão. Nasce, assim, uma concorrência directa da televisão interactiva com as Play Stations e as X-Boxes, em termos de jogos, vídeo e áudio, com possibilidades de armazenar mais de duzentas horas gravadas de vídeo. Aponta-se, para o próximo Natal, a convergência entre a televisão interactiva e os brinquedos, com a Mattel e a Warner Brothers a lançar uma série de animação Batman, cuja narrativa se sintoniza com os brinquedos (conteúdos, jogos). Claro que as vendas dependem de: 1) conteúdos e serviços, 2) finanças pessoais, 3) recompensas aos espectadores, 4) necessidade ou impulso do espectador.

Ética e adesão à televisão interactiva
Os serviços interactivos ligam-se também aos telemóveis. Ainda este ano, espera-se a oferta de serviço de videotelefonia nos móveis, com voz e imagem em simultâneo. Isso deve trazer interactividade entre operadores de televisão e móveis, conquanto possa representar uma potencial ameaça à privacidade. Qualquer pessoa, num qualquer local, pode fotografar e enviar imagens, “directos” que atentem à vida privada de um cidadão ou conjunto de cidadãos, não controláveis por qualquer entidade reguladora.

Se o lançamento de facilidades acrescidas nos móveis está para breve, a adesão à televisão digital e interactiva será uma realidade de crescimento lento. Segundo um recente estudo da AT Kearney para a Anacom, em 2007 haverá 474 mil lares a aderir à televisão digital, ou seja, 13,4% do total de lares com televisão.

Apesar de, como escrevi acima, haver uma linguagem excessivamente tecnológica - e um ambiente eufórico, de admiração das tecnologias, propiciada pelo espírito positivista dos engenheiros -, o certo é que a audiência presente no seminário ficou a saber muito melhor como está o mercado. Em que se ouviram os principais agentes empresariais e de produção e circulação das redes e dos conteúdos.

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