sábado, 15 de maio de 2004

DO QUE OBSERVEI E AINDA NÃO PUDERA ESCREVER

Os dias passam velozes e as solicitações são muitas, deixando no caderno apontamentos que carecem de ser organizados. Deixo aqui três deles: I) colóquio na UAL; II) Comcast versus Disney; III) a rainha dos patrões do cinema (Mayer).

I) Colóquio na UAL sobre "Comunicação social, segurança e defesa - os media em situações de crise, conflito e guerra"

Decorreu na UAL (Universidade Autónoma de Lisboa) um encontro subordinado a esse tema, no passado dia 11. Tomei algumas notas - estive presente, a moderar uma mesa, na qualidade de director da revista MediaXXI, para onde escreverei um artigo. Contudo, deixo aqui duas ideias:

1) tipos de relações entre jornalistas e militares, segundo a professora Paula Monge Tomé (UAL): diferentes em situações de paz ou guerra, consoante se trate de um país com regime democrático ou autocrático e entre cobrir a guerra do lado dos americanos (embeded) e do lado dos iraquianos, no caso da actual conflito no Iraque.

2) os níveis do jornalista no terreno da guerra, segundo o general Abel Cabral Couto (antigo presidente do Instituto de Defesa Nacional): o profissional na frente da batalha não tem a percepção da totalidade, pois vive demasiado perto de uma realidade local. É o repórter, por oposição ao que está presente em conferências de imprensa, o correspondente, com contactos suplementares. Finalmente, o comentador, que no estúdio de televisão interpreta a informação que lhe chega. É já do domínio da intelligence, pois tem uma visão mais alargada dos fenómenos em questão.

Jornalistas como Carlos Fino (RTP), Pedro Pinto e Henrique Garcia (ambos da TVI), Marta Atalaya (SIC Notícias) e Cândida Pinto (SIC) também deram a sua perspectiva nesta jornada da UAL, organizada pelos departamentos de Relações Internacionais e Ciências da Comunicação.

II) COMCAST RENUNCIA AO CONTROLO DA DISNEY

Já fiz referência neste sítio ao pretendido controlo da Disney por parte da Comcast (e que pode ter estado na dividida reunião da Disney, que retirou poderes a Michael Eisner). Mas agora é a vez de Brian Roberts, da Comcast, se retirar do sonho de ter em mãos a maior operadora de telecomunicações e de conteúdos a par da News Corp, de Rupert Murdoch (que se mudou recentemente para Nova Iorque).

Desde o primeiro momento que os investidores e os executivos da Disney tinham deixado claro o seguinte: ou a Comcast aumentava a oferta de 66 mil milhões de dólares, incluindo a dívida, ou não havia negócio. E o jornalista Sandro Pozzi (El Pais, 9 de Maio último) - que eu sigo nesta mensagem - diz que Roberts cometeu um erro, por excesso de confiança e falta de estratégia para se aproveitar da rebelião interna da Disney contra Eisner. É que ele queria fazer um takeover nada amigável, o que levou a Disney a cerrar fileiras.

A Comcast teve um aumento de lucros no primeiro trimestre de 9,8%, chegando aos 4,6 mil milhões de dólares. Mas a concorrência também saiu beneficiada: a Time Warner subiu 11%, arrecadando 2,04 mil milhões de euros. O que entusiasmara a indústria do entretenimento americana, há três meses atrás, foi o anúncio da Comcast, ao ir além do seu negócio tradicional - televisão por cabo - e implantar-se nos conteúdos e na distribuição. Mas os analistas financeiros de Wall Street nunca acreditaram nesta ligação.

E, curioso, quando a Comcast manifestou a intenção de comprar a Disney, o patrão daquela (Brian Roberts) ridicularizou o homem forte desta (Michael Eisner). Eisner perdeu poder, mas as acções da Comcast baixaram de cotação em 10%, até Roberts anunciar que renunciava à compra. E Eisner, que se dizia que chegara ao fim, pode respirar de alívio e tratar de fazer os seus combates no interior da Disney. O "príncipe" Comcast deixou sem par de baile a "princesa" Disney. Seguiremos atentamente estas histórias.

III) A RAINHA DOS PATRÕES DOS FILMES

Ela dá pelo nome de Amy Pascal. Para a Mayer (o último nome da Metro Goldwyn Mayer, onde pontifica um leãozinho a rugir como marca), a senhora Pascal fez sair cinco filmes muito lucrativos – vão os nomes em inglês (como estão escritos no Sunday Times de 9 de Maio último, em artigo assinado por Dominic Rushe, e que eu sigo de muito perto): Gothika, Hellboy, 13 going on 30, Secret window, 50 first dates. O que também foi responsável por ela se tornar presidente do grupo de cinema da Sony, a Columbia Tristar. E Amy Pascal prepara-se para lançar um novo sucesso, o Homem-aranha 2.

Há uma ironia em tudo isto: a Sony espera ver-se livre do velho estúdio da Mayer, onde se filmaram as aventuras de James Bond. É que os bons velhos dias já passaram e o catálogo de filmes da MGM vale muito mais do que a produção de novos filmes. E Pascal tem um responsável acima de si, o londrino de nascimento Michael Lynton, anteriormente presidente-executivo da AOL Time Warner da Europa. A unidade de Amy Pascal é a estrela cadente de uma companhia em apuros. A Sony tem uma dívida de 12,8 biliões de dólares e está a meio de um processo de reestruturação. Se a divisão de produtos electrónicos ainda não dá lucros, a sua unidade musical luta com a concorrência e a ameaça da pirataria, diante da apatia dos consumidores.

Como a história das empresas tem narrativas dignas de um romance, filme ou telenovela, a Mayer tem um terceiro personagem, chamado Kirk Kerkorian, nascido em 1917, seis anos antes do primeiro filme da MGM. Kerkorian, californiano de origem arménia, é o 33º homem mais rico da América (seis biliões de dólares), e já comprou a MGM e a vendeu por duas vezes (tem 75% da MGM). Parece que se prepara para sair, mas a Sony e a MGM não comentam. A MGM é o último estúdio independente de Hollywood. Todos os rivais estão nas mãos das multinacionais. A Warner Brothers é proprietária da Time Warner e a 20th Century Fox pertence à News Corporation (que detém o próprio Sunday Times). Do lucro de 1,9 biliões de dólares de rendimento o ano passado, 1 bilião veio da divisão de entretenimento do lar. A MGM tem um catálogo de quatro mil filmes, como West Side Story, os Rockys, Terminator, 19 filmes de Woody Allen, e uma mão cheia de filmes de Ingmar Bergman.

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