quarta-feira, 7 de julho de 2004

JORNALISMO DE REFERÊNCIA

Foi este o título do I congresso luso-brasileiro e II congresso luso-galego de estudos jornalísticos que decorreu o ano passado na Universidade Fernando Pessoa (10 e 11 de Março). As actas foram agora publicadas, em volume organizado por Jorge Pedro Sousa, a alma do encontro que reuniu mais de 300 congressistas.

O primeiro texto de envergadura neste volume compete a José Marques de Melo e chama-se Jornalismo de referência no Brasil. Nele, e a partir de outros autores e textos, Marques de Melo define o jornalismo de referência no seu país a partir dos seguintes conceitos: 1) territorialidade, e 2) política editorial, em que se incluem jornais oficiais, comerciais e autónomos. Também dá destaque ao jornalismo de elite, decomposto em prestígio e qualidade. E parte para a análise dos jornais de qualidade no século XIX no Brasil: no Rio de Janeiro (O País, Gazeta de Notícias e Jornal do Brasil) e em São Paulo (Correio Paulistano e A Província de S. Paulo, agora O Estado de S. Paulo). Já quanto ao século XX, Marques de Melo observou outros jornais de qualidade. O trabalho apresentado tem uma base empírica, já publicada em 1998 pela editora UMESP, Universidade Metodista de São Paulo, onde o autor é professor. Trajectória histórica dos jornais, perfil editorial, fontes e informação e géneros jornalísticos encontram-se entre os temas estudados.

Um outro texto que não quero deixar de relevar é o de Eduardo Meditsch, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, e que tem muitos leitores e amigos deste lado do Atlântico. Que diz Meditsch? Que o jornalismo de qualidade se insere no espaço público contemporâneo, "caracterizado por uma nova ordem internacional em que as palavras perdem força e significado". Ele "observa a circulação do jornalismo de qualidade cada vez mais confinada a parcelas minoritárias das populações, e a perda de seu sentido público que o transforma de jornalismo de referência em jornalismo de elite". E, em conclusão, apela para o "resgate do sentido público do jornalismo de elite, para devolver-lhe o carácter republicano, a qualidade cidadã e a condição moral de referência".

O volume tem muitos outros motivos de interesse, que incluem o jornalismo digital, o jornalismo radiofónico e estudos de caso.

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