sábado, 17 de julho de 2004

A SEMIÓTICA E PEIRCE
 
[texto inicial de 27.10.2003 produzido para o blogue Teorias da Comunicação e que serve, agora, de apoio ao conceito de interpretante, incluido na mensagem de ontem]
 
Enquanto teoria, a semiótica realça a comunicação como geradora de significação. Com ela, constitui-se um novo conjunto de conceitos: signo, significação, ícone, índice, denotação, conotação. No centro está o signo. Ao estudo do signo chama-se semiótica ou semiologia.  A semiótica – que compreende: 1) signo, 2) códigos ou sistemas, 3) cultura – presta atenção ao texto; considera o receptor ou leitor como possuidor de um papel activo. O signo é algo físico, perceptível aos nossos sentidos.
 
Para o filósofo e lógico Charles Sanders Peirce (1839-1914), o signo envolve uma tripla relação entre signo, objecto e interpretante. O signo ou “representamen” é aquilo que substitui qualquer coisa por alguém, isto é, significa na ausência. O interpretante é o conceito mental do utente do signo, seja orador ou ouvinte. Descodificar é uma actividade tão importante como codificar.   Peirce (Écrits sur le signe, 1978: 147-165) produziu três tipos de signo: ícone, índice, símbolo (1978: 148-165).  O ícone é um substituto de uma coisa a que se assemelha. Uma mensagem material como um quadro é um elemento convencional no seu modo de representação. As fotografias são elementos icónicos. A fotografia no BI é um elemento icónico que me representa.
 
Já o índice é um elemento de autenticidade. Um relógio indica-nos as horas. Um barómetro com baixa pressão e o ar húmido são índices de chuva próxima. Diz-se que não há fumo (índice) sem fogo (realidade). Um índice é uma representação que reenvia para o seu objecto não pela semelhança ou analogia, mas porque há uma ligação dinâmica. Finalmente, o símbolo é uma réplica ou materialização de uma palavra pronunciada. A bandeira nacional ou um sinal do código de estrada são símbolos. Um símbolo é um signo próprio para declarar que o conjunto de objectos denotados por um conjunto de índices que se lhe associam. Um símbolo não indica uma coisa em particular, denota um género de coisa.

A MINHA SEMANA
 
Seminário de Thomas Patterson
 
O professor da Universidade de Harvard esteve, na segunda-feira e terça-feira, em Lisboa, a ministrar um seminário sobre metodologias para ciências sociais, a convite do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo).
 
O que leccionou Patterson? Falou demoradamente sobre a investigação através de questionários, da amostra aos problemas de não resposta, do desenhar as perguntas ao pré-teste do questionário, do acompanhamento deste por trabalho de grupos-foco, da preparação dos dados para análise até à apresentação dos resultados e às questões éticas em torno de um questionário. Como bibliografia de estudo, Patterson aconselhara o livro de J. Fowler Floyd Jr., Survey research methods.
 
Patterson é especialista em pesquisas de campanhas eleitorais, mas frisou também a importância das pesquisas em marketing. E, se no começo da massificação dos inquéritos, se usou o método da entrevista pessoal face-a-face, hoje está vulgarizado o método através do telefone (e começa-se a empregar a internet). Em termos de trabalho prático, pôs os participantes no seminário a desenharem um inquérito destinado a jornalistas para se percepcionar as alterações na sala de redacção onde a presença das mulheres tem sido cada vez maior. E enfatizou a importância da amostra e da sua construção. Já no desenho das perguntas, ele realçou a compreensão dos significados – cada pergunta deve ser o menos ambígua possível; daí o interesse dos grupos-foco, em ajuizar tais significados. Por outro lado, defendeu a ideia de que cada pergunta deve possuir uma escala de respostas, indo do muito bom/importante ao muito mau/nada importante.
 
Provas públicas de Mário Mesquita
 
Decorreram durante três dias, na Escola Superior de Comunicação Social. Assisti à sessão do segundo dia, na quarta-feira. Dentro da sua linha de investigação, ele observou os funerais televisivos, ou as telecerimónias, como diz mais apropriadamente, apresentou a sua análise ao funeral de Francisco Sá Carneiro, em 1980, no mosteiro dos Jerónimos. Sá Carneiro era então Primeiro-Ministro, falecendo por acidente de aviação, quando participava na campanha eleitoral para Presidente da República (com ele morreram o ministro da Defesa, Amaro da Costa, e outros acompanhantes).
 
Como material de análise, Mário Mesquita partiu de sete horas de directo televisivo (ainda não havia canais privados; logo, o trabalho baseou-se na transmissão da RTP, que começara a emitir recentemente a cores), especialmente a missa, que demorou uma hora e 34 minutos. Daqui partiu para a análise de dois fragmentos, a homilia e a comunhão. O autor interpretou essa observação com base em três princípios: 1) coerência da missa presencial, reconstruída na televisão, 2) articulação das instâncias do poder religioso e político, e 3) mediação da televisão e do jornalismo. 
 
A sua tese assenta na passagem de um ritual religioso (relação dos crentes com Deus) para um ritual mediático (inscrito no anterior, mas reconfigurado através do espectáculo). Isto é, a igreja transforma-se num estúdio de televisão, em que o padre oficiante se apaga e adquire uma função no lugar da passagem. No espectáculo, os celebrantes tornam-se em actores. E conclui, naquilo que me interessa, em ver a telecerimónia como dispositivo de comunicação: 1) o jornalista (que sussurra ao ouvido do telespectador) e o padre são os agentes que asseguram o contacto com o destinatário, 2) recria-se o enquadramento original, com alterações substanciais da ordem, com o altar a deixar de ser olhado de frente, pois a câmara foca também a audiência e segue ainda o protocolo do Estado (planos específicos das figuras públicas, quer políticas quer religiosas quer ainda os familiares do Primeiro-Ministro). Para Mário Mesquita, a câmara televisiva retalha o espaço. E termina ao conceder dúvidas sobre a ideia, então discutida, de que a cerimónia fúnebre – em tempo lento e recorrendo a um grande dramatismo – poderia beneficiar o PSD, de que Sá Carneiro era líder, e canalizar votos para o seu candidato. Porém, tal não aconteceu e Eanes, que aparece na cerimónia, acabaria por ser reeleito.
 
Assim, a telecerimónia é, para o autor, o oposto do registo do jornalista, que trata da informação, da notícia, e que procura satisfazer a ideia do conflito. Curioso é que o realizador da transmissão, entrevistado por Mário Mesquita, veria aquele trabalho como uma mera reportagem.
 
Como fazer uma tese de mestrado
 
Foi na quinta-feira, com os alunos do mestrado de Comunicação da UCP, organizado pelo seu director, Fernando Ilharco. Os quatro alunos que já defenderam tese deram o testemunho do seu trabalho aos alunos que encetam agora essa tarefa. Um dos novos mestres falou a partir do Brasil, de onde é natural, através da internet.

OS JORNAIS DE HOJE

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No caderno "Babelia", do El Pais de hoje, vem um texto de António Lobo Antunes, La armonía del mundo.

Já no caderno de "Economia" do Expresso, há dois artigos que me chamaram a atenção. O primeiro é sobre o aumento do número de mensagens SMS ao longo dos últimos anos. Desde cedo, escreve Manuel Posser de Andrade, as indústrias culturais (audiovisuais) aplicaram o SMS para votações em concursos e programas. O Big Brother foi o primeiro programa televisivo, já em 2001, a adoptar votações por SMS, cedo transformado em SMS de valor acrescentado. A linguagem usada, em especial pelos mais jovens, é transposta dos chats da internet. O segundo texto que destaco do Expresso é sobre a nova imagem da EDP, em artigo de Catarina Nunes. O novo símbolo da empresa de electricidade é um sorriso em fundo de quadrado vermelho, desenhado pela equipa de MyBrand. A partir de 29 de Julho, a nova imagem acompanhará a volta a Portugal em bicicleta, que a EDP patrocina.

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