quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

O PESO DO COMÉRCIO ELECTRÓNICO NAS INDÚSTRIAS CULTURAIS

Shaun French e colegas escreveram um texto sobre o comércio electrónico e os efeitos potenciais e prováveis que ele terá na construção, transformação e reprodução das cadeias de valor na moda, música e serviços financeiros. O título do texto é Putting e-commerce in its place (2004).

Em primeiro lugar, apresentam a forma do bem [commodity]. Nos três sectores estudados – moda, música e serviços financeiros – tem havido diferentes níveis de resistência à transformação digital do bem. E se música e dinheiro fluem hoje pela internet, a materialidade da moda torna esse bem menos permeável à digitalização.

Depois, têm de se considerar as redes dos sectores industriais e as suas topologias para compreender o impacto da internet. Sobressaem os impactos organizacionais e espaciais, pois eles incidem sobre cadeias de valor, relações de poder, políticas organizacionais e discursivas.

Em terceiro, os efeitos da internet são mais complexos do que se pensava inicialmente em termos de determinismo tecnológico. Não se pode falar em “morte da distância”, isto é, nem tudo é redutível ao envio de ficheiros electrónicos de um sítio para outro. Há contactos sociais e de frente-a-frente que não se podem substituir. Os autores, na sua análise aos três sectores em estudo, sugerem que a internet reforça as geografias existentes de produção embora incremente novos nós de distribuição.

Finalmente, ergue-se uma crítica às narrativas bipolares que dominam a literatura (físico/virtual, material/imaterial). Há dimensões mais úteis como confiança/suspeita ou receio ou divisões de consumo.

Texto: Shaun French, Louise Crewe, Andrew Leyshon, Peter Webb e Nigel Thrift (2004). "Putting e-commerce in its place: reflections on the impact of the internet on the cultural industries". In Dominic Power e Allen J. Scott (eds.) Cultural industries and the production of culture. Londres e Nova Iorque: Routledge

Sem comentários: