sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

VIRILIO: VELOCIDADE E DESAPARECIMENTO

Dos autores que eu falei ontem na aula, dentro da perspectiva do determinismo tecnológico [voltarei à designação] e sua reflexão próxima ou afastada às indústrias culturais, destaquei Paul Virilio. Arquitecto urbanista, cristão, teórico político e historiador militar, tem uma escrita pós-estruturalista (fragmentária e não linear) [encontram-se no sítio InfoAmérica dados muitos concisos sobre este autor francês].

Um tema central do trabalho de Virilio é o da estética do desaparecimento, a que ele associa o aumento da velocidade. Contrapondo que a face escondida da riqueza é a acumulação, Virilio considera que a aceleração da informação nos dias de hoje (cibernética, telecomunicações, internet e interactividade) torna necessária a construção de uma economia política da velocidade [imagem retirada do sítio Le Monde]. A cidade da informação transforma profundamente a concepção de tempo, por oposição à do espaço e da cidade. O espaço fica devorado pelo tempo real, pelo on-line de actualização permanente. Desaparecem ideias mestras da civilização, como o emprego e o posto de trabalho fixo: a periferia da cidade cheia de assalariados e a organização central dos recursos dão lugar ao conceito nodal de redes de telecomunicações internacionais. É um autor pessimista.

Virilio explora os momentos finais da luta entre velocidade metabólica e velocidade tecnológica na qual parece desaparecer. Programamos o nosso próprio desaparecimento. Tratamos o corpo como se fosse alguma coisa para "acelerar" constantemente. Há ritmos que crescentemente se impõem (ritmos de trabalho, edição no ecrã, videoclip, música de dança). Um exemplo disto é a alteração dos ritmos biológicos ocasionados pela tecnologia industrial, mesmo com o uso da luz eléctrica.

O poder é, sempre, o modo de controlar um território por mensagens, meios de transporte e de transmissão. E esse controlo depende da velocidade de circulação, hoje igual à da luz, e que garante os atributos divinos da ubiquidade, instantaneidade, imediatidade, omnipresença e omnipotência. Do mesmo modo que McLuhan concedia importância à luz e à iluminação eléctrica, também Virilio edifica a sua teoria baseada no fenómeno luminoso e na velocidade da electricidade, agora resultado da interacção do tempo real, dos fenómenos ópticos e da electrónica, emergindo o termo optoelectrónica.

1 comentário:

Anónimo disse...

Viriliio é uma das poucas vozes ainda existentes para nos lembrar que não devemos nos deixar seduzir com tanta facilidade pela maravilha da técnica nesta sociedade consumo-informativa. É bom saber que autores deste calibre encontram espaço nas aulas. Parabéns pela abordagem.