Rosental Alves fez um discurso pessimista quanto ao jornalismo em papel mas tomou a posição diametralmente oposta quanto ao futuro do jornalismo digital. Os efeitos da internet sobre os media tradicionais são avassaladores, o que o levaria a falar em mediacídio [o suicídio dos media], que acarreta a morte de empresas e questiona o actual estatuto das carreiras dos profissionais dos media.
A revolução do digital será comparável - ou até maior - que a realizada pela criação da imprensa por Gutenberg. Falando da rapidíssima disseminação da Rede, o professor brasileiro com cátedra em Austin descreveu o conjunto de princípios sobre a passagem de um modelo de comunicação para outro (a partir de Fiedler): co-evolução e coexistência, propagação, sobrevivência, oportunidade, atraso na adopção, metamorfose. É a mediamorfose, compreensível pela massa crítica ganha pelo jornalismo online e mensurável em audiência (que supera já a do jornalismo em papel). Para Rosental Alves, o jornalismo do futuro assenta em adaptabilidade, em aprender a aprender, em criatividade e perder os bloqueios face às tecnologias. Mas deixou algumas críticas ao jornalismo digital como o de ser ainda pouco criativo e algo burocrático [que eu não compreendi, dado ter defendido anteriormente a criatividade como eixo do jornalismo do futuro e o pouco tempo de existência do novo modo de fazer comunicação não ser índice de burocracia].
Na sua longa mas brilhante e entusiasmante conferência, o professor Rosental designou a revolução digital como eucêntrica - leio/vejo tudo o que eu quero, na hora que eu quero, onde eu quero e no formato que eu quero. Por isso, a referência às tecnologias do RSS e do Podcasting, onde eu monto a minha página e a sequência de músicas que eu quero. E a alusão aos blogues, que eliminaram a relação unívoca dos media de massa entre emissor e receptor e o privilégio do jornalismo atribuído unicamente aos jornalistas.
A posição de Salaverría
Ramón Salaverría é, apesar da juventude, um académico com carreira já consolidada na Universidade de Navarra. Por isso, não se estranhou o facto de, embora olhando com entusiasmo o futuro do jornalismo digital, anotar quatro perspectivas diferenciadas: 1) expectativas cumpridas pelo jornalismo digital, 2) não cumpridas, 3) efeitos inesperados, e 4) prospectiva. Com recurso a dados estatísticos sempre muitos recentes, Salaverría [que eu vira na sua universidade, em Novembro passado, e fiz um longo comentário neste blogue] diria que, das expectativas cumpridas pela internet (e que o jornalismo digital é uma expressão), ao aumento na sua utilização corresponde um menor consumo de televisão, telefone e jornais. Já das expectativas não cumpridas, o professor espanhol apoiou-se em texto de Nora Paul (Março de 2005), onde se aponta nomeadamente o espaço ilimitado para as notícias não significar mais tempo para os leitores (que têm um limite físico), o diálogo entre jornalistas e leitores, uma melhor compreensão e clareza nas relações entre jornalistas e fontes de informação e o aproveitamento das possibilidades de arquivo.
Quanto aos efeitos inesperados, destacou a reconfiguração do mercado da comunicação e das suas empresas (se, há vinte anos, os media se isolavam segundo o meio, a internet tornou-se aglutinadora de imprensa, rádio e televisão), traduzível na resposta a pedidos de públicos até aí não atendidos, acarretando uma crise da figura do jornalista, que Rosental Calmon Alves também identificara. Finalmente, em termos de prospectiva, os números indicam que a internet é já o primeiro meio escrito na Europa, enquanto se espera que, em 2008, o volume de negócios na internet alcance o da televisão, o que significa que os negócios dos media tradicionais passam a ser condicionado pela internet. O jornalismo participativo é outra das apostas do futuro.
Nota: para ler resumos mais profundos e ver mais imagens, consultar o blogue das jornadas Dez Anos de Jornalismo Digital em Portugal, da responsabilidade da organização, a quem eu felicito pelo excelente trabalho e acolhimento. Acrescento que o blogueiro apenas esteve um dia, e não dois, fora da Rede. A divulgação das jornadas em Braga merece este esforço, apesar das viagens e da noite menos bem dormida (a cidade estava em festa e o grupo das jornadas fez uma confraternização memorável, laços que não se podem desperdiçar).
1 comentário:
Será que tão entusiastica alusão feita ao fenómeno RSS faz com o indústrias-culturais passe a ter uma feed ? É só activar no painel de configuração do Blogger.
Atom == RSS
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