terça-feira, 19 de julho de 2005

A ATENÇÃO AO CINEMA

Entre o Público e o Diário de Notícias de hoje, é este que dá muito mais atenção à quebra de espectadores do cinema em Portugal. O Público dedica-lhe 24 linhas na secção de "Curtas", o Diário de Notícias uma página e um título mais significativo: "Cinema continua em queda".

O Público apenas seguiu a informação do presidente do ICAM, o Diário de Notícias ouviu também a responsável de comunicação da Lusomundo. Claro que se pode dizer que a Lusomundo tem interesses directos no cinema e daí lhe prestar mais atenção.

E o que dizem os números? No primeiro semestre deste ano, houve menos 865 mil espectadores que em igual período do ano passado. Segundo o ICAM, entre Janeiro e Junho venderam-se 7,18 milhões de bilhetes (no semestre homólogo do ano transacto, o valor fora de 8,05 milhões), com um resultado bruto de €31 milhões (menos €1,5 milhões que no perído de comparação). Elísio de Oliveira, presidente do ICAM, considera que as responsabilidades se repartem entre a concorrência do DVD (ver cinema em casa ou pelo sistema pay-per-view) e a alteração do ciclo de estreias nos Estados Unidos e a sua repercussão na Europa, com estreias múltiplas. Dantes, as grandes estreias ocorriam no começo do ano, agora repartem-se entre o Verão e o Natal. A jornalista do Diário de Notícias pergunta com razão: "mas não era assim já em 2004"?

O Diário de Notícias, com uma infografia em que surgem as "estrelas" de Madagascar, conclui que este filme de animação digital não está a ter sucesso. Eu próprio verifiquei: o filme estreou na sala maior do Londres (onde o vi), passando para a mais pequena quando estreou a Guerra dos mundos (aliás foi na mais pequena que eu vira os Incredibles e o Finding Nemo nos dois últimos Natais, o que demonstra o erro de programação, pois não há a concorrência das férias do fim-de-ano).

Ainda segundo o Diário de Notícias, a crise de bilheteira dos cinemas é um fenómeno que se repete em países como Alemanha, Espanha e Itália. Claro que a análise não entra em linha de conta com a alteração em todos os passos da cadeia de valor do audiovisual. E distinguir cinema do audiovisual, como parece ser a linha agora dominante em Portugal, é esquecer que, nos Estados Unidos, o principal produtor de cinema, os filmes são pensados não tanto para as salas mas para o DVD e a televisão. Começam ali mas financeiramente ganham mais nos passos seguintes, associados ainda ao merchandising. É isso que a peça do Diário de Notícias não explica.

Nota acrescentada a 20 de Julho: o Público dedicou uma página ao assunto, pelo que o que escrevi no começo da mensagem é parcialmente injusto. Um dia depois do espaço dado pelo Diário de Notícias, o Público fazia o mesmo.

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