quarta-feira, 20 de julho de 2005

TESE "IMPRENSA E PODER NO PERÍODO MARCELISTA (1968-1974)"

Com nota máxima, Ana Cabrera concluiu o seu doutoramento na Universidade Nova de Lisboa com uma tese sobre jornalismo no consulado de Marcelo Caetano, primeiro-ministro português nesse período. Ela procurou compreender a imprensa da época através do posicionamento do poder político, da organização da imprensa e dos jornalistas no contexto das organizações.

anacabrera.JPGComo base empírica, fez 20 entrevistas a jornalistas que trabalharam nos anos em investigação e estudou oito jornais de informação geral (Diário de Notícias, Diário da Manhã, Época, Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital, República e Expresso) - uma espécie de análise morfológica dos jornais: primeira página, secções e suplementos. Observou a imprensa a partir de quatro ângulos: poder político, poder económico, jornalistas e jornais.

Marcelo Caetano conhecia bem os media: trabalhara como jornalista e estivera no lançamento de jornais e da televisão pública. Escreveu textos sobre a importância da opinião pública na sociedade moderna, não se conhecendo outros políticos do Estado Novo que tenham reflectido sobre essa matéria (à excepção de António Ferro). Daí que, quando assumiu o poder, tivesse ideias claras sobre o que deveria ser uma Lei de Imprensa (aprovada em Junho de 1972). Para Ana Cabrera, o político, ao executar essa lei, tinha em mente preservar a censura, que já vinha do começo do regime (1927).

Importantes ideias no trabalho hoje defendido prendem-se com a situação económica dos jornais (que transitaram de um modelo familiar para um modelo de grupos económicos) e o crescimento e transformação dos jornalistas. Estes, que eram pouco mais de 300 em 1960, passariam a mais de 700 em 1974. A investigadora explica esse crescimento pela maior demanda de jornais, com mais páginas e suplementos. Como os jornais exigiam maiores habilitações aos seus profissionais, entraram jovens oriundos das universidades, onde haviam acompanhado as lutas estudantis. Tal alterou o perfil político dominante no jornalismo e levou a que o sindicato dos jornalistas elegesse uma direcção, em 1970, não afecta ao regime. As eleições de 1969 acabariam por tornar mais maleáveis os mecanismos censórios (apesar de um forte retrocesso neste aparente liberalismo, e que esteve por detrás do descontentamento generalizado e que acabou com o regime político em 1974).

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