domingo, 21 de agosto de 2005

OS CONSUMOS DO CINEMA EM PORTUGAL

cine1.jpg"Um terço dos portugueses nunca vai ao cinema" (Inês Nadais, Público, 10 de Agosto), "Um terço dos portugueses não vai ao cinema" (João Pedro Oliveira e Maria João Caetano, Diário de Notícias, 12 de Agosto). A informação provinha de estudo divulgado pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) e Comissão de Classificação de Espectáculos (CCE), num trabalho feito pela Euroexpansão.

cine2.jpgQue outros dados interessantes os jornais publicaram? Dois terços dos nacionais não compram filmes e mais de metade não os aluga. Em termos de nível etário, os jovens entre os 14 e os 17 anos são os que mais vão ao cinema: 45,6% deles garante a ida ao cinema duas vezes por mês em média. São também os jovens os clientes do mercado de aluguer de DVDs. A ida ao cinema torna-se um comportamento minoritário a partir dos 30 anos (14,1% dos inquiridos) e residual nas faixas etárias acima dos 50 anos. Para o director do ICAM, Elísio de Oliveira, as "pessoas que compram DVD são as mesmas que vão ao cinema" (jornal Público). O mercado está virado completamente para o público adolescente, como eu frisei em mensagem anterior [aliás, as imagens que ilustram os textos dos dois jornais apontam para isso: os filmes são Star Wars III, Madagáscar, Guerra dos mundos].

cine4.jpgA perda de espectadores (e a correspondente quebra de receitas nas salas de cinema) não se justifica pelo mercado de venda e aluguer de DVD. A crise tem o contraponto no crescimento da pirataria: em destaque, lê-se no Diário de Notícias que quase dois terços da informação partilhada na internet corresponde a ficheiros de vídeo. Hoje, as redes peer-to-peer (redes de amigos) é a plataforma principal de difusão de cópias ilegais de filmes.

Há, ainda, um fenómeno contraditório: o da abertura e encerramento de salas de cinema. Segundo o Diário de Notícias, desde o começo de 2004 até Junho deste ano abriram 91 salas e fecharam 25, com um saldo positivo de mais 66 salas (num total de 998 ecrãs). Entre os novos recintos, destacam-se os Millenium no Freeport de Alcochete (21 ecrãs), pertencente a Paulo Branco, que já abrira, no ano anterior, 16 salas no Alvaláxia XXI, em Lisboa. Há rumores que a empresa está em processo de insolvência, mas o seu dono não comenta. E para o começo do próximo ano prevêm-se oito salas aqui ao lado, no Campo Pequeno.

cine3.jpgSentido, sentido, foi o encerrar de portas do cinema de S. Mateus (Viseu), como se lia no local Centro do Público de 10 de Agosto. A sala abrira há quase 23 anos, com Em busca da esmeralda perdida, e fecharia este mês com o filme Quem tem medo do papão? [será que os títulos têm alguma relação com a histótia do cinema?] Os espectadores, diz a peça assinada por Marisa Miranda (com fotografias de Carla Carvalho Tomás), frequentam agora os cinemas dos centros comerciais: Palácio do Gelo (três salas e abertura próxima de mais) e Fórum Viseu (que terá seis salas este ano ainda). Cada cinema que morre deixa uma época para trás - filmes, relações pessoais, circuitos de consumo e cultura. Mas a vida é assim mesmo! O contraditório acima assinalado vai pesar, com certeza, contra as salas de cinema.

Observação: pela inserção das imagens nos dois jornais, percebe-se que o Diário de Notícias tem uma leitura mais maleável e agradável que o Público. A cor e a possibilidade das imagens "morderem" o texto dá ao Diário de Notícias um ar de modernidade face a um jornal, o Público, que, novo de quinze anos, tem um layout clássico, sem permissão de grande inovação.

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