domingo, 23 de outubro de 2005

A ENTREVISTA DE JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS AO EXPRESSO ("ÚNICA")

O que se lê na capa, a seguir ao título, é: "Jornalista, professor e escritor, confessa que quase não vê televisão".

expresso221020052.jpgFiquei estupefacto com o lead. E li a (quase) exclamação de Manuel Pinto no seu blogue Jornalismo e Comunicação sobre o mesmo assunto. Mas há, quanto a mim, injustiça no assunto.

No interior da entrevista, a propósito de um livro que José Rodrigues dos Santos (JRS) vai lançar, O codex 632, onde sustenta que Cristóvão Colombo era português, ele explica como consegue conciliar, em termos de tempo, actividades tão dispersas como jornalista, professor e escritor: "Já não preciso de pesquisar muito a matéria que ensino na Faculdade - lecciono Jornalismo Televisivo e Atelier de Jornalismo Televisivo. Por outro lado, escrever é o meu hóbi. Gosto mesmo de escrever. Não preciso de me impor uma disciplina. Não passeio em centros comerciais e quase não vejo televisão".

A um cirurgião, que está todo o dia no hospital, não se exige que continue a exercitar nas horas vagas, em casa ou no café. Ou de um técnico de contas não se espera que faça contas ou balancetes nas horas de descanso. Um ou outro podem escrever, fazer jornalismo num meio regional ou simplesmente ir ao futebol acompanhar a sua equipa. JRS não gosto de centros comerciais ou não vê televisão em casa - e isso não quer dizer que não trabalhe bem em televisão, pois tem as horas de serviço na RTP e as aulas. É legítimo que deixe as suas horas vagas para escrever.

Claro que ele é rápido: escreve 10 páginas por dia. Quando defendeu a tese de doutoramento, estava no dia seguinte (ou dois ou três dias depois) a editar o primeiro volume dessa tese numa editora de prestígio de Lisboa. Mas as críticas a ele também podem ter razão de existir, pois ignoro o contexto total delas. Criticável poderá ser o facto de JRS dizer que precisa de fazer pouca investigação para leccionar. Como eu gostava de ter essa segurança e não andar sempre à procura de novidades. Talvez seja porque ele ensine matérias práticas e eu teóricas!