quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

A MORTE DO CINEMA? OU A RECUPERAÇÃO DO CINEMA?

Trabalho hoje o excelente dossiê saído no Público do passado dia 20 de Novembro. São quatro páginas de textos, a que se juntaria, na mesma edição (caderno "Local"), mais cerca de página e meia (dedicada ao cinema Quarteto, em Lisboa).

publico201120051.jpgA capa da edição, com fotografia de Manuel Roberto, aponta para a crise no cinema, com as salas portuguesas a perderem quase dois milhões de espectadores este ano quando comparado com 2004 (quebra de 14%, em números de Outubro). Isto apesar da receita bruta ter uma menor variação negativa: €50,5 milhões, menos 8,5% que igual período do ano passado.

Ao mesmo tempo, aponta-se para o crescimento dos DVD, com mais um milhão de compradores este ano se comparado com 2004. Aparentemente, trata-se de um movimento de cinéfilos da sala para casa. Mas no texto principal, assinado por Kathleen Gomes, a questão é mais aprofundada. Este ano não houve êxitos de bilheteira como em dois filmes do ano passado: Shrek 2 e A paixão de Cristo. E a ausência de espectadores nas salas de cinema não é apanágio de apenas Portugal, fazendo-se iguais contas nos Estados Unidos e na Europa.

Apoiado em diversos quadros e gráficos que nos dão conta da realidade do sector, há um texto que quero realçar ainda, a crónica de Nuno Ferreira, onde ele dá conta da sua experiência como espectador único de sessões de cinema, experiência que eu próprio também tive e aqui relatei: "a sala vazia, [e o espectador] só pensa em que ângulo e em que lugar pode apreciar o filme". Ou o registo de vozes, como no texto de Natália Faria: "Custa-me ver morrer mais uma sala", um desabafo do projeccionista do cinema Nun'Álvares (Porto).

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Nas páginas do caderno "Local", o assunto era o aniversário das salas Quarteto, aqui não muito longe de minha casa. O Quarteto atingiu 30 anos de existência e o futuro não parece muito optimista. O seu animador, Pedro Bandeira Freire, descreve o que chama de "ditadura e monopólio proibido por lei de determinadas distribuidoras que também são exibidoras". Fora do circuito dessas distribuidoras, no Quarteto passam filmes "difíceis" ou que não são estreias, o que dificulta a ida de espectadores. Numa das peças, assinadas por Diana Ralha, conta-se a história do maior êxito de bilheteira do cinema, All that jazz, de Bob Fosse, descrito pela distribuidora como "um filme musical horroroso em que o protagonista morre no fim". E também do êxito de Martin Scorcese, Taxi driver, um filme de alguém "que andava de táxi em Nova Iorque".

Mas a vida dos DVDs pode também complicar-se, como se depreende (embora não explicitamente) no texto de Rita Siza, no seu despacho de Washington: "A ideia é prolongar ao máximo o período de vida de um qualquer produto, e logo a sua capacidade de gerar receitas e amortizar os investimentos ou multiplicar os lucros". Ora, para que os DVDs consigam gerar lucros elevados, os filmes precisam de ser atraentes. E se não forem? E por quanto tempo se consegue rentabilizar cada um dos DVDs?

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