terça-feira, 21 de março de 2006

HIP-HOP (II)

[continuação da entrada de ontem]

Inês Pinto Correia, Joana Lopes e Vera Silva aplicaram o seu inquérito no momento em que o rapper 50 Cent actuou no Pavilhão Atlântico (Lisboa), a 1 de Outubro do ano passado, querendo validar a hipótese: a transformação do hip-hop de cultura marginal e restrita numa cultura mainstream. Claro que os 100 inquiridos, pela ida ao concerto, eram fãs do rapper.



As três alunas definiram uma faixa etária consistente: 56% tinham entre 21 e 29 anos. Seguiam-se a faixa dos 16 aos 20 anos e 14% dos 10 aos 15 anos. Aqui, há uma distinção face ao texto empregue ontem ("Pública", 20 de Novembro de 2005), pois o público do 50 Cent é mais jovem que o analisado no inquérito. A minha explicação é que uma coisa é gostar do músico e outra o ter dinheiro para ir ao concerto, com os mais velhos a disporem dessa facilidade.

Como o hip-hop é um género suburbano, a Grande Lisboa representa, no inquérito, 41% da área de residência dos fãs. Igual percentagem conhece o artista há mais de três anos, pois foi nessa altura que 50 Cent foi considerado a revelação do ano. O que ilustra a actualidade dos fãs e liga o artista ao fenómeno comercial que caracteriza o género.

55% dos fãs está mais interessado no ritmo do que nas letras e na mensagem veiculada nas músicas. Estilo de vida (42%) e estilo de música (41%) são os valores mais evidentes da música transmitida pelo rapper. Já a mensagem do hip-hop, segundo os inquiridos, pode desdobrar-se em revolta (23%), estilo de vida e sexo (19% cada), liberdade e paz (14% cada) e crítica social (12%). O público do músico tomou conhecimento dele maioritariamente através da televisão, sendo menor o conhecimento veiculado pela rádio e por amigos.

Quanto a outros estilos de música, os inquiridos referiram Rythm & Blues (31%), pop (22%), rock (18%), alternativa (8%), heavy metal (4%). E, conquanto a televisão seja a principal fonte de informação dos respondentes, a Rádio Cidade é a estação favorita, pois passa os três principais géneros musicais de preferência. E 59% declarariam fazer downloads das músicas, com 12% a afirmarem comprar merchandising do artista.

1 comentário:

Sr. J. disse...

Eu gosto de estudos. Os estudos por muito desinteressantes ou irrelevantes que sejam, acabam sempre por contribuir para um avanço e aumento daquilo que se sabe. Tudo pode ser estudado e investigado mas não da mesma forma. Nos últimos tempos ploriferaram estudos que se debruçam como o hip-hop, a maioria deles afirmam investigar e estudar "O" hip-hop como se conseguissem abranger tudo o que ele significa. A verdade é que a maioria destes trabalhos partem de pressupostos errados. É óbvio que muitas das manifestações desta cultura têm uma forte componente sociológica, com uma história ligada a uma raça e a grupos reprimidos, problemáticos ou minoritários. Mas não é só isso, é muito mais simples que isso. Outros estudos confundem hip-hop com gangsta rap, com 50 cent, com danças de ginásio, com eminem, e mais ridículo que tudo, com cultura juvenil e morangos com açúcar. Mas também não é isto. É admissível estudar-se a relação do hip-hop com as comunidades e grupos étnicos onde se difundiu inicialmente e onde ainda mantém as "raízes", é justo avaliar a influência de certo estilo de música nos jovens que a ouvem mas a muitas vezes fala-se de hip-hop quando afinal é um rapper novato misturado com três ou quatro cantores e grupos r n' b e pop.
O cerne da questão para mim é que o hip hop é só um estilo de música com o contexto e o envolvimento que acaba por ser natural. É provavelmente o estilo musical mais bem sucedido dos últimos anos em todo o mundo. É também um estilo bastante abrangente que é feito de diversas formas e por artistas com inspirações e olhares diversos. Em jeito de comparação podemos dizer que falar de hip-hop é quase o mesmo que falar de rock(no âmbito mais abrangente possível) ou da música feita com guitarras elétricas. Em suma, uma forma de arte só injustamente pode ser investigada pela frieza de variáveis e análises de dados.