quarta-feira, 30 de maio de 2007

AMÉRICA: DO SONHO AO PESADELO


Este foi o título da última aula de Laura Pires na licenciatura de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica Portuguesa.

Professora Catedrática de Estudos Ingleses e Americanos naquela universidade, a sua carreira passou também pela Universidade Nova de Lisboa e pela Universidade Aberta. Com doutoramento em Estudos Anglo-Portugueses (Cultura Inglesa), as suas principais áreas de trabalho têm sido: literatura infantil, estudos de cultura americana e estudos da mulher. Destaco as suas obras - Sociedade e cultura norte-americanas (1996), Ensaios: notas e reflexões (2000) e Teorias da cultura (2004).



A sua lição (uma conversa em torno de um conhecimento) começou com a ideia de América prometida. A conferencista referiu viagens à América antes de Colombo (1492), partindo de mapas quer de vikings quer de chineses. Na representação mental desde essa época, a América apresenta-se como o continente de liberdade, onde cada um se entrega à sua cultura e religião.

A chegada de europeus, em especial dissidentes religiosos ingleses - que tinham uma "missão no mundo", convertendo todo o mundo às suas regras (o contrato com Deus no navio Mayflower) -, alterou esse estado inicial de liberdade. O qual foi mais questionado com o que foi designado por middle passage, ou viagem de pesadelo, a ligação entre o Ocidente e a África, com os navios transportando mercadorias para o continente negro e daqui partirem os barcos de negreiros, carregados de escravos para a América e Caraíbas. Eram viagens cruéis, de duração entre dois e cinco meses ou mesmo mais tempo, chegando a "carga" ao destino reduzida a metade.

Mas a América é também um melting pot, como afirmou a professora Laura Pires. Este continente de imigrantes tornou-se um cadinho de culturas que se fundiram, resultando na construção de um novo homem. Laura Pires encontraria uma melhor imagem, a da salada de frutas, em que cada cultura contribui com um sabor distinto.

Foi ainda salientado o mito da frontier (que não traduziu por fronteira), pois aponta o conceito de terra ideal. Em que destacou o papel das mulheres (mães, professoras, médicas ou curandeiras) na ida para o oeste do continente. Ainda sobre as mulheres, referiu o sufrágio e a luta pelo voto (1913, em Washington), assim como o impulso das mulheres afro-americanas na luta feminista. As mulheres retirar-se-iam, disse a conferencista, nos anos de 1960, para darem o lugar aos homens na defesa dos direitos cívicos. Do movimento feminista, lembrou Toni Morrison. Da nova geração de mulheres activas, falou de Nancy Pelosi, actual speaker do Congresso.

Na lição houve ainda espaço para o pesadelo, o 11 de Setembro de 2001, com a queda do World Trade Center, em Nova Iorque. O pesadelo está ainda patente em cenas de violência como Columbine (1999) e Virginia Tech (2007).

Mas os americanos têm outro ideal: a reconstrução. Em que se devem aliar a educação e a solidariedade.

1 comentário:

Gabriel Silva disse...

Apenas um apontamento sobre o direito de voto das mulheres: estas tiveram direito de voto ao nível das legislaturas e eleições locais em vários Estados dos EUA ainda no século XVIII.
Posteriormente, e ao longo do Séc. XIX, em alguns casos, tal direito foi revogado e depois novamente atribuído de forma progressiva .

A 19º Emenda da Constituição dos EUA, aprovada em 1913, e que entrou em vigor em 1920, garantiu isso sim, o direito de voto a nível federal.