quinta-feira, 13 de setembro de 2007

SEMIÓTICA EM JOSÉ AUGUSTO MOURÃO E MARIA AUGUSTA BABO


O objectivo da semiótica é explicitar as condições de apreensão e produção do sentido, indicam José Augusto Mourão e Maria Augusta Babo no começo do livro. E fornecer uma arqueologia do signo e da representação são outros objectivos, continuam.

Assim, após um capítulo inicial, de definição do campo, das diversas famílias da semiótica - linguística, filosofia, teoria literária, cibernética, teorias da informação e dos media -, seguem-se dois capítulos igualmente importantes (genealogia, cartografia).

Fixemo-nos ainda no capítulo inicial. Nele se referenciam duas opções de campo: semiótica, semiologia. A semiótica é o estudo dos sistemas de significação e a semiologia descreve sistemas usados para fins comunicativos (código de estrada, sistemas de números, micro-sistemas de símbolos da vida quotidiana) (p. 13). Semiologia é mais literária, semiótica conota a ideia de um projecto global em que se associam linguística, antropologia, fenomenologia. São 25 densas páginas fazendo a história dessa disciplina tão fascinante quanto difícil, e que tem autores conhecidos como Saussure, Peirce, Greimas, Barthes, Hjelmslev e Eco, cada um deles olhando a matéria de forma peculiar e rica.

Se a teoria de Peirce é a doutrina geral dos signos (p. 18), há grandes diferenças entre a semiótica soviética, a de Peirce e a semiologia de Saussure, pacientemente explicadas no livro. De carácter disciplinar, o objectivo ideal, convocam os autores de novo, é estabelecer uma teoria geral dos signos em todas as suas formas e manifestações. Centro-me no conjunto de objectos ou campos de aplicação: semiótica do texto, semiótica dos media, semiótica do espectáculo, semiótica visual, semiótica do espaço, etc. Rito, código, significação e interpretação são alguns dos conceitos apresentados e trabalhados.

O segundo capítulo, dedicado a percepcionar melhor as genealogias, quase começa afirmando que a semiótica não é um movimento monolítico, em especial quando olhamos a disciplina ao longo do tempo. Ela arrancou integrada no universo dos signos naturais: sintomas clínicos, indícios meteorológicos, vestígios criminais. Hipócrates criou uma sintomatologia ligada ao saber médico (p. 40). Mas o filósofo português João Poinsot (1632) é considerado o autor da primeira teoria unificada do signo. Também Santo Agostinho, no primeiro livro do De Magistro, é apresentado como o fundador de uma semiótica de carácter geral. Escreveu ele: "todo o signo é, ao mesmo tempo, alguma coisa, visto que se não fosse alguma coisa não existiria". Contudo, a semiótica moderna precisaria de um terceiro elemento para além da coisa que substitui outra, a significação ou interpretação.

O terceiro capítulo, com as cartografias, assinala separadamente os vários autores principais da semiótica: Saussure (e Bakhtine, Benveniste e Derrida), Hjelmslev, Jakobson (e o formalismo russo, com Propp), Greimas, Barthes, Kristeva, Peirce (e também Eco).

Confesso que sempre gostei mais (ou entendi melhor) Saussure e Barthes, e não Peirce. Mas a interligação de três elementos em Peirce - signo, objecto, interpretante - ou a articulação de índice, ícone e símbolo, é uma construção poderosa. Um índice é um signo que remete para o objecto por ser afectado por ele (o fumo é o índice do fogo) (p. 171). O ícone é um signo que remete para o objecto em virtude de características próprias, caso do diagrama. O símbolo é um signo que remete para o objecto em virtude de uma lei; na proposição "António gosta de cerejeiras", "gostar" é um símbolo.


Trata-se, pois, de um livro fundamental, simultaneamente pedagógico e de uma grande profundidade e vastidão.

Leitura: José Augusto Mourão e Maria Augusta Babo (2007). Semiótica. genealogias e cartografias. Coimbra: MinervaCoimbra, 245 páginas

2 comentários:

Mab disse...

Obrigada, Rogério, sempre tão atento ao universo das publicações na área da Comunicação.
Maria Augusta Babo

Mab disse...

Obrigada, Rogério, sempre tão atento ao universo das publicações na área da Comunicação.
Maria Augusta Babo