sexta-feira, 23 de novembro de 2007

SPIN DOCTOR MAIS AGENDA


A situação interna na RTP, com o caso Rodrigues dos Santos, tornou-se complicada de gerir. As notícias no Público e no Diário de Notícias onde se dizia que a administração queria despedir o jornalista até ao Natal custasse o que custasse, a par da tomada de posição dos jornalistas da estação pública e do sindicato dos jornalistas, precipitaram o caso. Este deixava de ser interno e passava ao domínio do espaço público, da discussão pública.

Como se sabe, dias depois de rebentar a polémica, o presidente do canal público foi convidado para presidente da empresa Estradas de Portugal, que pertence ao Estado, abandonando, assim, a RTP, enquanto se anunciava que o vice-presidente da estação assumiria a sua condução até ao final do ano.

Ontem, o saído presidente da televisão deu uma entrevista ao canal, onde considerou que nunca esteve em causa a demissão do jornalista. O seu rosto denunciava outras intenções. Parte interessante da entrevista é a história pessoal do entrevistado, que começou a trabalhar aos 13 anos e foi saneado politicamente no período mais exacerbado do pós 25 de Abril de 1974. Homem de percurso e perfil simultaneamente rigoroso e irascível, a entrevista serviu para ilustrar o que estava em causa - no debate e na situação com o jornalista. Era, com objectividade, uma entrevista de balanço (e de salvar a face e suavizar posições). Até na confissão de que o ministro o convidara para continuar à frente da RTP.

Hoje, é indicado o seu sucessor, Guilherme Costa. Traçado o perfil do novo gestor, o ministro vem destacar a confiança na independência do novo presidente da RTP. Isto é, o ministro que convidara o anterior gestor a permanecer no lugar fazia o elogio do novo.

Há, aqui, uma boa gestão de danos colaterais e de agenda de acontecimentos. Ontem, foi a notícia da despedida de um gestor (configurando que o caso polémico com Rodrigues dos Santos estaria resolvido sem despedimento); hoje, fez-se o anúncio do senhor que se segue. O ministro, pela rapidez e sageza com que geriu um assunto muito delicado nestes últimos dias, o testemunho do ex-presidente e as declarações do futuro presidente de que continuará na linha da anterior administração (embora cada gestor tenha objectivos e orientações diferentes), mostram um ensaio perfeito de sucessão de coisas (e uma combinação prévia). Como se tudo tivesse estado sempre bem, sem dúvidas, sobressaltos ou desencontros. Um perfeito trabalho de produção de acontecimentos (melhor: de pseudo-acontecimentos) Não fosse a forma de conduzir as coisas de Almerindo Marques, é bem provável que ele continuasse no lugar.

A isto se chama tecer ocorrências, elaboradas por spin doctors, de modo a que tenham efeito na opinião pública, resultem num determinado sentido. Spin doctor, em si, é alguém (ou uma agência de comunicação, ou uma figura pública ou fonte oficial) que trabalha em, ou usa, relações públicas (ou em lugares de grande acesso mediático) e cria factos ou encenações, comentando-os em conferências de imprensa, entrevistas e outras formas de comunicação com os jornalistas.

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