Combate político e primeiro estudo científico de audiências - eis dois ângulos que eu encontro ao analisar documentos de 1978, 1979 e 1980 sobre a rádio pública portuguesa [para ler, clicar em cima das imagens].
O combate político cabe a dois textos editados no Diário de Lisboa, vespertino já desaparecido. O primeiro é de Estrela Serrano (26 de Maio de 1979), intitulado "Uma ética para a RDP". Retiro um parágrafo: "A RDP, ao fazer-se veículo de conteúdos que nada têm a ver com os interesses mais prementes dos portugueses, está a alienar as suas verdadeiras funções como Rádio pública, ao serviço do povo que a usa e paga. Sabe-se que nenhum outro meio tem a capacidade de atingir tantas pessoas de maneira tão eficaz".
O segundo texto, de Emídio Rangel (24 de Maio de 1980), tem o título "RDP, ou a Informação trazida pela trela". Extraio uma parcela: "Na Radiodifusão Portuguesa, em pouco mais de três meses, grande parte da hierarquia intermédia foi alterada. Colocaram-se não só nos «postos-chave», mas mesmo em lugares de reduzida importância, pessoas de confiança política sem qualquer respeito por critérios de competência; afastaram-se das suas tarefas habituais profissionais qualificados".
Um pouco antes, a rádio pública editava o documento "Audiência e Opinião sobre a Rádio" (Verão de 1978). Aí se toma conhecimento que o primeiro estudo de audiência e opinião realizado sobre a RDP datou de 1977, e o segundo estudo foi feito em Junho de 1978, cabendo à Norma "as operações de recolha e tabulação mecanográfica dos dados" (p. 10) e ao Gabinete de Estudos da RDP a concepção do estudo e o controlo metodológico. Seriam feitas 3500 entrevistas no continente, 875 na Madeira e 840 nos Açores.
Então, já lá vão 30 anos, cerca de 10% da população do continente não tinha qualquer contacto com os media (imprensa, rádio, televisão). Em pelo menos três dias por semana, 24% liam um jornal diário, 62% ouviam rádio e 67% viam televisão. Cerca de 15% leram dois livros nos últimos três meses e 11% iam ao cinema pelo menos duas vezes por mês. 14,7% (995 mil pessoas) escutavam o canal 3 da RDP, 14,2% (965 mil pessoas) escutavam a Rádio Renascença, 12,2% (826 mil pessoas) escutavam o canal 1 da RDP e 2,7% (186 mil pessoas) escutavam o canal 4 da RDP.
Ainda não tinha chegado o movimento das rádios livres ou piratas, em meados da década seguinte, a Rádio Comercial pertencia então ao grupo da RDP, nacionalizada três anos antes, e a RFM iria emergir depois para, lentamente, tomar conta da liderança das audiências.
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