domingo, 28 de dezembro de 2008

PROGRAMAS DE APLAUSOS

Um dia, ao sair da visita a um canal de televisão, vi uma pequena multidão à porta de entrada, tudo gente com idade acima dos sessenta anos. Indaguei ao que ia aquela gente; disseram-me tratar-se da assistência de um programa tipo reality show ou talk show. E contaram-me uma história deliciosa, em que uma senhora de idade perguntava onde era o gordo. O interpelado, julgando tratar-se de um restaurante, enumerou os nomes daqueles que conhecia nas redondezas. Mas o que a senhora queria era saber onde ficava o estúdio do programa diário do canal em que o apresentador é bastante nutrido.

Quase desde que me lembro, há séries americanas que metem risos e aplausos. Creio que eles surgem para despertar a atenção dos telespectadores. Mais recentemente, os programas ao vivo (ou gravados) incluem assistência que aplaude e ri constantemente. Para o canal de televisão, fica-se com a ideia de programa de audiência atenta e feliz, auditório cheio para quem actua e para quem vê em casa. Para os assistentes, é uma forma de ganharem algum dinheiro e divertirem-se durante esse tempo. Entre eles, há pessoas idosas ou desempregadas que têm essa actividade diária, deslocando-se mesmo entre programas dos vários canais.

Na SIC, o novo programa de Bárbara Guimarães que arranca no fim-de-ano, Atreve-te a cantar, já gravou o primeiro episódio num estúdio de trezentos participantes na plateia a bater palmas e mostrar constantemente um sorriso de orelha a orelha. Um computador é o centro de tudo, pois ele decide quem canta melhor (ignoro o gosto estético do programador, mas acho que deve ser perigoso confiar numa máquina aquilo que para os humanos é fonte de tão variadas escolhas). Os cantores da série Rebelde Way seriam as vedetas, numa sessão que começou às nove da manhã e terminou já de madrugada.

Nesse dia, a senhora de setenta anos que há vinte anda na "aventura" de aplaudir e rir em momentos que a produção do programa pede, em Paço d'Arcos, e mais algumas das suas colegas não puderam participar num qualquer programa da TVI, deslocando-se de autocarro para Queluz de Baixo.

Logo, surgem perguntas na minha cabeça: como se organizam os intervalos para almoçar ou jantar? Ou os assistentes trazem sandes e água e sumos de casa? Como voltam a casa tão tarde? Como aguentam todo o dia a bater palmas? E, para ir à casa de banho, como fazem sem se ver movimentos de entrada e saída de pessoas na televisão em casa?

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