segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

AINDA ESTAMOS NUM TEMPO DAS HUMANIDADES?

No seu texto publicado no New York Times de hoje, Stanley Fish assinala o livro de Frank Donoghue ( The Last Professors: The Corporate University and the Fate of the Humanities) e reflecte que os tempos actuais são adversos ao ensino das humanidades. Donoghue indica que se reduzem os departamentos de humanidades com professores a tempo inteiro capazes de dissertar longamente sobre livros com alunos interessados em tais debates. O que importa agora são matérias produtivas, títulos práticos e utilitários.

Filosofia, artes, literatura, história ou línguas mortas são matérias desnecessárias, sem utilidade visível mas que gastam recursos cada vez mais escassos. A medida deste desinteresse é dada pela redução de professores a tempo inteiro (com o grau de associado ou catedrático), que se tornam dispendiosos e pouco produtivos em termos de saber aplicável, hoje apenas com uma quota de 35% do total de docentes, e sua substituição por professores mais jovens e com vínculo laboral precário.

Fish conclui o seu texto de modo irónico: "Há pessoas que, por vezes, pensam que nasceram ou demasiado tarde ou demasiado cedo. Depois de ler o livro de Donoghue, sinto que nasci no tempo certo, pois me parece que não teria uma carreira tão agradável se começasse cinquenta anos depois. Apenas sorte, ao que tudo indica".

O texto de Stanley Fish certamente remete para o estudo divulgado há cerca de um mês, o designado Demography of the Faculty: A Statistical Portrait of English and Foreign Languages, da Modern Language Association. O estudo, feito pela National Study of Postsecondary Faculty (NSOPF), baseou-se em questionários enviados a 35000 docentes (76% de respostas). Comparando 1995 e 2005, ele indica uma quebra acentuada de 10% entre professores a tempo inteiro com vínculo estável e aumento de professores a tempo parcial nos Estados Unidos, no que se refere ao ensino do inglês e de outras línguas.

A meu ver, um movimento tem a ver com o outro. Menos docentes credíveis origina menos confiança.

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