quinta-feira, 16 de abril de 2009

VASSILY KANDINSKY


"As grandes pinturas que tomam gradualmente forma dentro do meu coração" são palavras de Vassily Kandinsky escritas numa carta à sua mulher Gabriele Münster em 1915 e que se referem aos trabalhos que planeava e expressam o seu pensamento íntimo face à pintura.

A exposição patente no Centre Pompidou (Paris) de 8 de Abril a 10 de Agosto resulta da apresentação de obras do pintor russo Vassily Kandinsky (1866-1944), pertencentes maioritariamente ao Centre Pompidou (Paris), ao Städtische Galerie im Lenbachhaus (Munique) e Solomon R. Guggenheim (Nova Iorque), num total de algumas centenas de pinturas de grande formato e que o pintor criou entre 1907 e 1942, complementadas com desenhos adquiridos recentemente pelo Musée National d'Art Moderne.

O centro da exposição é o ano de 1921, quando o pintor se exilou na Alemanha. Mas vêem-se igualmente obras iniciais, num estilo a que chamei de expressionismo icónico (influência da pintura de imagens em forma de ícones nas igrejas ortodoxas), pinturas feitas após a sua chegada a Munique em 1908, a Primeira Guerra Mundial, o regresso à Rússia revolucionária (onde tomou parte na intervenção de vanguarda do regime soviético), a sua chegada à escola da Bauhaus em Weimar (1922) e em Berlim (até ao encerramento em 1937), a sua residência em Paris. Do que vi, gostei particularmente das obras feitas no arco histórico de 1909 a 1913, onde há uma surpreendente viragem de estilo e que, a meu ver, tornam Kandinski um dos pintores mais importantes do século XX e fazem da exposição no Centre Pompidou uma das mais importantes a nível europeu este ano.

Kandinsky estudou direito e economia na Universidade de Moscovo, defendendo tese de doutoramento em 1895. No ano seguinte, com 30 anos, viajou para Munique para aprender pintura. Deixou a carreira académica e encontrou Gabriele Münster, com quem passou a viver. O casal viajou pela Europa, nomeadamente por Amsterdão, Viena e Roma. Também esteve na Tunísia. Em 1906, foi a vez de visitar Paris; longe dele estaria a ideia de ali morar e viver os anos finais da sua vida.

O período de 1896-1907 foi de incursões em "desenhos pintados" e pequenas paisagens resultado das viagens que fez. Em 1908, regressava a Munique, onde começou um período de grande intensidade - o período que acima assinalei como o que mais me impressionou. É o período do Blaue Reiter, com Franz Marc, onde abandona lentamente a figuração. A exposição mostra, sem dramatismo mas com uma enorme alegria, essa transição. Em 1911, surge a primeira pintura abstracta, Bild mit Kreis (Pintura com um Círculo), composição de massas coloridas de diferentes densidades. O começo da Guerra em 1914 levou Kandinsky a regressar à Rússia. A um período de euforia sucede um tempo de crise. Sem estúdio e materiais, ele volta-se para o desenho e a aguarela.

Após a Revolução de Outubro de 1917, Kandinsky pinta de novo. Em 1921, viaja para a Alemanha, com a sua terceira mulher, Nina, e aí permanece até 1933. Como escrevi acima, aceita colaborar com a Bauhaus de Walter Gropius, onde se deixa influenciar pelas inclinações racionalistas da escola e pelo trabalho de Paul Klee, que conhece e com quem partilha a ideia da arte aberta para o espiritual. A ascensão do nazismo leva-o, após indecisões, a rumar até Paris (Neully-sur-Seine). Esta mudança reveste-se de um novo período de desânimo: os nazis consideraram degenerada a sua arte. Os seus trabalhos foram retirados dos museus: Guggenheim negociaria a compra de vários destes trabalhos, transportados para Nova Iorque.

[texto a partir do desdobrável que acompanha a exposição, que, anteriormente, esteve patente em Munique. Após a saída de Paris, Kandinsky será mostrado em Nova Iorque, a partir de 18 de Setembro. O catálogo da exposição contém a reprodução das obras expostas e textos de, nomeadamente, Annegret Hoberg, Riccardo Marchi, Vivian Endicott Barnett, Angelika Wiessbach, Matthias Haldemann, Tracy Bashkoff e Christian Derouet]

1 comentário:

joão ramos disse...

Já tenho saudades do Pompidou. Da última vez que lá fui, havia seios, braços e pernas de algumas centenas de quilos pendurados no topo. E foi sobre Vassily Kandinksy, o meu primeiro livro da Taschen :)

Bom artigo.