- O texto abaixo inserido foi publicado no livro de vários autores, Ecos da lusofonia. 7 anos de rádio em cooperação (2006), editado pela Fundação Evangelização e Culturas. As imagens acompanharam dois textos meus na revista Jornalismo e Jornalistas, números 4 (2000) e 15 (2003). As fotografias das primeiras quatro imagens foram tiradas por José Frade no desaparecido Museu da Rádio. Algumas das imagens seguintes foram retiradas do Boletim da Emissora Nacional (1935-1936). Agora que se aproximam os 75 anos da rádio pública (Agosto de 2010), este é o meu preparativo para a comemoração.
Do começo da rádio até finais do século XX
As primeiras emissões de rádio em Portugal começaram no Outono de 1924. Um dos pioneiros foi Abílio Nunes dos Santos Júnior, que instalou o emissor CT1AA, com programação constituída por peças tocadas ao vivo, dentro de um reportório de música clássica. As estações pertenciam a comerciantes, gestores de hotelaria e militares, chamados amadores da rádio ou senfilistas.
Em 1931, apareceu a primeira estação moderna, o Rádio Clube Português (RCP), liderado por Jorge Botelho Moniz, que apresentou uma programação voltada para a música popular (portuguesa, espanhola e americana), programas infantis, informação, religiosos e de crítica musical. Pouco tempo depois, em 1935, começou a Emissora Nacional, com outra estrutura. Um dos maiores êxitos na sua programação foi o “Retiro da Severa”, local de transmissão de música popular (fado). A terceira grande estação a inaugurar as suas emissões foi a Rádio Renascença, ligada à Igreja Católica, em 1937. No final da década, estava formado o panorama da rádio em Portugal, e que perduraria até à mudança de regime político, em 1974. Para além das três estações mencionadas, havia conjuntos de pequenas estações agrupadas em Lisboa (Emissores Associados de Lisboa) e no Porto (Emissores do Norte Reunidos).
Em termos tecnológicos, a grande novidade, nos anos 60, seria a transmissão em simultâneo de ondas médias e por modulação de frequência, significando maior qualidade na recepção. Já nos anos 80, irrompeu o fenómeno das rádios piratas, reconvertidas em rádios locais, de proximidade ou temáticas, de que se destacou a TSF, que apostaria na informação, nomeadamente a política. Já na viragem para o século XXI, o desafio tecnológico da rádio chama-se digitalização, com vantagens como melhor qualidade de registo de programa, perfeita fiabilidade na transmissão e recepção, articulação com vários suportes (imagem, por exemplo), disponibilização de cópias em vários suportes (caso da internet). Isso permite que, com uma estrutura mínima, se faça uma estação de rádio local mas com alcance mundial.
Presente e futuro
Em Portugal, existem quatro grupos de dimensão e notoriedade nacionais (RDP, Grupo Renascença, Media Capital e TSF) e cerca de 350 rádios locais ou de proximidade. Enquanto as rádios de cobertura nacional se integram, por regra, em grupos e apresentam maior estabilidade e volumes de negócios, as rádios locais são pequenas e médias empresas que facturam anualmente pouco acima de €100 mil. O número médio de colaboradores é de cinco por estação, equivalente a um mínimo de três a quatro animadores para todo o dia de emissão e fim-de-semana, para além de um técnico ou jornalista. O ordenado médio do jornalista situa-se entre o salário mínimo nacional e os €498,80. Mas outras rádios locais têm dificuldade em ultrapassar €10 mil por ano, o que dá uma média mensal de pouco mais de €800, insuficiente para pagar além de um colaborador a tempo inteiro, sem contar com instalações, electricidade e discos). A falta de quadros (programadores, jornalistas) traduz-se em programação fácil e indiferenciada. A que se acrescenta a crise económica da presente década, que implicou uma baixa de investimentos publicitários, com redução do custo dos blocos de publicidade, passando de €30 euros por 30 segundos no começo dos anos 1990 a €12,5 dez anos depois, acarretando problemas de solvência.
Muitas das rádios locais vivem da música portuguesa e promovem os artistas da região em que se inserem, apostam na defesa dos concelhos a que pertencem e dão a conhecer realidades que, de outro modo, não seriam divulgadas. Com frequência, atingem níveis etários mais velhos e estabelecem interacção com os ouvintes, num reflexo de rádio de proximidade.
Nos últimos anos, os governos apoiaram a renovação tecnológica das estações e criação de cadeias de rádios locais, impondo a obrigatoriedade de emissão em 24 horas diárias e um mínimo de oito horas de programação própria. Integradas em duas associações, Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR) e ARIC, esta de tendência cristã, poucas rádios locais formam cadeias de programação e transmissão. Em vez de fundir projectos, imprescindível para garantia de continuidade, preferem políticas de rivalidades locais. As únicas cadeias de rádio existentes sobrepuseram o plano geográfico e o plano económico, retirando a característica de proximidade das rádios através de ligações nacionais (noticiários da TSF, programação da Capital). Isto é um indício forte de falta de economia de escala nas rádios locais, que continuam a viver na dependência do Estado e das autarquias (subsídios, publicidade institucional), com perda de independência editorial.
Bibliografia
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