quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

JORNALISTAS E AGÊNCIAS DE COMUNICAÇÃO - O ESTUDO DO CIDOT

A agência de comunicação Cidot apresentou recentemente um estudo intitulado Jornalistas e empresas. Pistas para uma relação necessária. Era o tema proposto para o programa do Clube de Jornalistas que ontem foi emitido pela RTP2, mas não se chegou a falar do estudo.

I. No estudo, a Cidot, uma das 144 agências de comunicação que contabilizei no anuário de Meios & Publicidade, propôs-se fazer a radiografia dos jornalistas portugueses, tendo entrevistado 238 jornalistas com os cargos de chefe de redacção e editores ligados a imprensa escrita (166 profissionais), rádio (24), televisão (22), agências de notícias (10), meios digitais (8) e correspondentes (8).

O trabalho agora apresentado pode ser comparado com o organizado por José Luís Garcia e publicado este ano com o título Estudos sobre os Jornalistas Portugueses. Metamorfoses e Encruzilhadas no Limiar do Século XXI. Aqui, a equipa de investigadores inquiriu 251 jornalistas num total de 4247 profissionais (II inquérito aos jornalistas portugueses, a partir de dados do Sindicato dos Jornalistas e da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas, 1997). Apesar de não se dirigir ao universo de editores e chefes de redacção como no estudo do Cidot, em qualquer nível de jornalista há uma percepção igual no que diz respeito ao contacto com as fontes de informação, pelo que não há discrepâncias a ressaltar. No trabalho de Garcia a margem de erro é de 6%, no do Cidot a margem é de 5%.

Mas há diferenças. O trabalho do Cidot é mais institucional, pois não inclui freelancers, número não despiciendo (no estudo de Garcia, aproxima-se dos 6%; hoje, deve ter ultrapassado os 10%), o que pode distorcer os resultados. O estudo de Garcia aponta para 60% de jornalistas da imprensa escrita (dados de 1997), ao passo que o trabalho do Cidot indica 70% (além deste número, inclui agência, media digitais e correspondentes), pelo que pode haver variações de novo.

II. O estudo indica a importância do email, do telefone e do fax como canais privilegiados, a que se segue a conversa pessoal. Um trabalho recente de mestrado sobre a secção de agenda de um canal televisivo - porta por onde entra a informação - confirmou o email mas não o fax. No estudo do Cidot, mais à frente, há um grande relevo ao contacto pessoal (telefónico, ida ao local) (tabela 4 do estudo).

É elevado o volume de informação recebida por cada jornalista - 38 informações diárias em média. Este dado é pertinente por duas razões: 1) não há probabilidade de publicar toda a informação recebida, 2) um chefe de redacção pode receber mais informação que um jornalista generalista. O estudo parece querer destacar o que está a acontecer nos media electrónicos face aos media clássicos: naqueles, praticamente tudo é publicado, como um trabalho de mestrado sobre revistas de moda indica. Tal contraria a elevada percentagem de textos não publicados, segundo o estudo (80%). Há que fazer essa distinção. Jornais como o i e os canais de televisão podem estar a seguir tendências não previstas no estudo.

III. Há uma grande crítica aos comunicados de imprensa - e que foi um dos assuntos do programa do Clube de Jornalistas de ontem -, nomeadamente porque são muitos publicitários e porque não incluem informação suficiente. Estudos etnográficos concluem pela boa qualidade dos comunicados. Nomeadamente desde a década de 1980, as empresas e outras instituições dotaram-se de gabinetes de comunicação e de imagem ou têm consultores de comunicação, com antigos jornalistas como principais recrutados e que escrevem segundo padrões do jornalista. Conheço casos pessoais que vão nesse sentido.

Contudo, a crítica do estudo é muito útil, o que significa que há muito a fazer no território das agências de comunicação, caso da crítica da informação pouco rigorosa, o que me parece um elemento importante. A tabela 3 do estudo do Cidot (principais defeitos dos comunicados) realça que estes "não estão redigidos com mentalidade jornalística". É curiosa a expressão, o que pode constituir dois significados: 1) o jornalista está à espera dessa mentalidade para escrever de acordo, 2) o jornalista é um profissional com certa preguiça porque quer fazer "corta e cola". Do que mais valoriza, o jornalista realça a rapidez, não se sabe aqui se é a rapidez na resposta a questões colocadas pelo jornalista ou no anúncio de uma fonte de um acontecimento próprio.

A tabela 4 do estudo dá uma informação prestimosa: o jornalista acredita mais nos contactos pessoais e pouco nas páginas de internet das instituições, o que põe por terra as aspirações das instituições na informação online. Claro que há casos onde a página de internet é a principal fonte de informação. Estou a pensar na ERC, na FCT e noutros organismos públicos, caso da colocação de documentos na íntegra e abertura de concursos.

Sem comentários: