terça-feira, 8 de junho de 2010

FRONTEIRA EM MCLUHAN (II)

McLuhan segue Harold Innis e Eric Havelock, que desenvolveram a consciência da tradição oral no mundo antigo. Os antropólogos modernos, lidando com sociedades não alfabetizadas, tornaram os nossos contemporâneos conscientes da força integradora e unificadora da cultura oral. O profundo interesse de Harold Innis pela interacção nas fronteiras das formas escritas e orais da experiência inspiraria Eric Havelock (nascido em Londres mas tendo vivido grande parte da sua vida no Canadá), com estudos sobre a tradição oral na Grécia antiga. Eric Havelock trabalha o conceito de fronteira social entre as tradições escrita e oral e os seus efeitos sobre a modelagem da percepção e comportamento humano no mundo antigo. Os poetas tornaram-se as enciclopédias tribais do tempo da cultura e a enciclopédia tribal contém não apenas pensamentos ou observações mas também técnicas relativas ao modo de conduzir a sociedade, ao modo de governá-la e controlá-la. Reforçando: a tese de Havelock é a de que os poetas foram os primeiros educadores da Grécia, constituindo a instituição educacional daqueles tempos e causando ressentimentos noutros educadores, os da palavra escrita, como Platão. O tema do livro de Havelock é que uma sociedade oral acondiciona e regista na sua enciclopédia oral as técnicas para operar uma sociedade.

McLuhan entende que o artista é um homem de fronteira, dadas a ruptura que faz com o mundo do seu tempo e aponta para outras perspectivas inovadoras. Estar na fronteira, estar entre mundos, viver a condição humana em mundos divididos e distintos geográfica e historicamente, é ter uma visão mais aguda dos acontecimentos actuais do que aqueles que estão envolvidos nesses mundos.

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