Quando espero na fila de saída do supermercado para pagar as compras que fiz, reparo nos títulos das revistas semanais de televisão, cor-de-rosa ou de boatos, estrategicamente (perfidamente) colocadas nesse local. Leio que Cinha Jardim está solteira (há duas semanas, lera que ela tinha um namorado americano) e que Alexandra Lencastre continua apaixonada (lera duas semanas atrás que ela se separara e estava solteira). Isto a par de um antigo concorrente do programa da TVI, a Quinta das Celebridades, de que já escrevi aqui no blogue mas esqueci o nome, estar com muito pouco dinheiro, o que o levou a despedir a empregada de limpeza. E sem falar das férias de Fernanda Serrano com a filha no Algarve ou de Diana Chaves cada vez mais magra (diz o título), em férias com o seu namorado, conhecido jogador de futebol.
Não creio existir uma designação mais precisa dessa literatura semanal do que supermarket tabloid, como lhe chamam os americanos. S. Elizabeth Bird, docente e investigadora da universidade de South Florida, Estados Unidos, ao analisar essas publicações, indica que os leitores estão hoje mais interessados em ler histórias de celebridades do que ler as notícias de modo a conhecer a realidade nacinal ou mundial. Ela detecta haver prazer nos leitores em aceder a esses boatos e histórias de mulheres e homens que se comprometem hoje e estão livres amanhã, numa espécie de ciclo semanal em que o que é verdade hoje deixa de ser amanhã. O sensacional e a novidade são, indicam os especialistas em jornalismo, valores-notícia muito prezados pelos leitores. Bird (The Audience in Everyday Life, 2003, p. 24) diz que os críticos consideram as audiências (os leitores) como dotadas de curiosidade mórbida e que procuram sensações, explicações psicológicas e patológicas. Ao invés, os estudos culturais falam de audiências activas ou que resistem a padrões dominantes. O excesso nas notícias pode corresponder a valores transgressivos.
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