quarta-feira, 13 de abril de 2011

MEDIA E ACTOS ELEITORAIS SEGUNDO MÁRIO BACALHAU

O livro de Mário Bacalhau, Atitudes, opiniões e comportamentos políticos dos portugueses: 1973-1993. Cultura política e instituições políticas, evolução e tipologia do sistema partidário, afinidade partidária e perfil dos eleitores, data de 1994, mas a sua temática é actual, devido ao período pré-eleitoral que atravessamos.

Não é meu propósito estudar o tema mas tão só analisar as poucas páginas que o autor dedica aos media e aos líderes de opinião (pp.39-44). Mário Bacalhau (nascido em 1936) observa duas utilizações dos media: 1) contribuem para um maior volume de informação e difusão de comportamentos diferenciados, diminuindo a influência das normas de uma comunidade que tendem para a uniformização, 2) informam de modo universal e criam homogeneização reduzindo as diferenças dos grupos de referência. Os media favorecem as tomadas de consciência.

De acordo com a investigação produzida pelo autor, realizada em 1978, 1984 e 1993, a audiência dos principais media aumentou de modo impressivo. Por exemplo, ler um jornal semanário subiu de 14,3% em 1978 para 32,2% em 1993. Do mesmo modo, acompanhar o noticiário televisivo diário subiu de 69,6% em 1978 para 95,5% em 1993, o que significa quase todo o universo.

No índice de exposição (frequência de audiência ou contacto), concluiu por bastante exposição (52,3%), seguida de pouca exposição (27,4%), números que alteram conforme o nível de instrução. Por exemplo, entre a população com frequência universitária, havia um elevado índice de exposição (51%), um bom índice de exposição (39,5%) e pouca exposição (9,5%). A participação política e a manifestação de opiniões aumenta quando é maior o índice de exposição.

Outro resultado que me parece interessante é o que diz respeito à percentagem de população com níveis elevados de liderança. Mário Bacalhau indica que a percentagem de líderes de opinião era mais elevada em 1978 que nos outros anos estudados (1984 e 1993). A explicação residia, diz o autor, na maior instabilidade política no primeiro daqueles anos, pois havia mais actos eleitorais e sucediam-se com mais frequência as campanhas eleitorais, com os media a dedicarem mais tempo e espaço à informação sobre os assuntos políticos e o governo, transformados em assuntos de interesse do quotidiano dos cidadãos.

Se esta "lei" se verificar agora, justifica-se o maior envolvimento dos canais de televisão na campanha eleitoral que se avizinha, com entrevistas e reportagens, numa situação crucial para a vida de Portugal, com a vinda do FMI em ocasião de crise considerada a mais grave de há 150 anos. Hoje de manhã, numa recolha de depoimentos de populares ouvidos pela rádio pública em Bragança, uma senhora dizia que a vinda do FMI tinha a ver com as nossas contas bancárias. Dívida soberana, default, resgate e FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira) são algumas das novas palavras comuns que temos ouvido com insistência nas últimas semanas.

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