terça-feira, 14 de junho de 2011

PROCURAR GANHAR A VIDA

Quando subo as escadas do metro, encontro-o à direita, encostado à parede. As escadas estão agora desertas, a uma hora muito cedo de um dos últimos domingos. Mas lembro-me da sua fisionomia: com algumas rugas em rosto anguloso, bigode comprido, às vezes a fumar, outras vezes a conversar com um empregado da segurança do metro. Tem talvez uns cinquenta anos. Vende nas escadas: chapéus de chuva, luvas, sandálias de plástico, sabrinas, coberturas de telemóvel, meias, sempre em pequeníssima quantidade. Ganha pouco dinheiro, certamente. Mas vejo-o com uma grande regularidade no seu "posto de trabalho", trabalho quase clandestino apesar de se situar num local público.

Na rua, caminhando ao longo de um percurso, outro homem procura ganhar algum dinheiro. É um homem-cartaz: ele anuncia cautelas e venda de ouro e prata nas placas de plástico amarelo que traz à frente e atrás. No momento em que o fotografo, há um canal de televisão (ou produtora) que o entrevista. Possivelmente, o entrevistador quer saber como trabalha, o que ganha e que histórias de gente que vende o seu ouro porque já não tem dinheiro para comprar bens essenciais. Nos últimos anos, os homens-cartaz andam pelas ruas a publicitar as casas de penhor. Por isso, tornam-se motivo de reportagem de televisão e de escrita de artigos de jornal.



O país empobreceu - e estes homens representam essa perda de confiança e poder. Devem ter ficado sem os seus empregos, se calhar pouco qualificados. Agora, com um olhar meio envergonhado, esperam que os abordem e façam um pequeno, muito pequeno, negócio.

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