quinta-feira, 4 de agosto de 2011

VIDA

Pela portada fechada e pelas cadeiras vazias do restaurante à esquerda da imagem, adivinha-se-se que é domingo. Na praça, um grupo de homens falava acaloradamente, perto de um automóvel, enquanto indivíduos mais velhos se sentavam isolados nos bancos do jardim mesmo junto à igreja, onde a missa estava a acabar. Um deles comia. As paredes riscadas e grafitadas encontram-se numa zona onde havia muito trabalho ligado ao porto. As actividades deslocalizaram-se, as lojas fecharam, o mercado da ribeira perdeu a importância. Ali, há magníficos edifícios, um deles identificado pelo nome do arquitecto e pelo ano de 1947 mas muitos encontram-se para alugar, o que me intrigou. Na esquina, a rapariga olhava para o telemóvel, esperando clientes, ainda não era meio-dia. Ontem, à noite, depois do teatro (Marat/Sade), vi no passeio da rua uma rapariga de saia branca a dançar, enquanto também esperava. Um jovem a conduzir um carro antigo pôs-se a olhar mas não parou. Na televisão, o ministro justificava os recentes aumentos de serviços públicos. Ou então eram as imagens do julgamento de Mubarak no Egipto; não percebi muito bem, pois os televisores dentro da loja não permitiam ouvir o som. Parece que o destino das cidades antigas é tornarem-se lugares decadentes, sórdidos, perdidos, de escassa poesia.

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