quinta-feira, 20 de outubro de 2011

POLÍTICA POP

Gianpietro Mazzoleni esteve há dias em Lisboa e deu uma conferência sobre política pop no congresso The Culture of Remix. O presente texto é sobre uma obra que Gianpietro Mazzoleni e Anna Sfardini, dois docentes da Università degli Studi di Milano, publicaram em 2009 o livro Politica pop. Da "porta a porta" a "l'isola dei famosi", na editora il Mulino, de Bolonha e conta com um vídeo feito durante a presença de Mazzoleni entre nós (http://videos.comunicacaoecultura.com.pt/).

No livro, analisa-se o fenómeno da televisão ter descoberto um dia que a política podia fazer audiências e os políticos ganharem capital ao alcançarem um vasto público através da lógica do espectáculo. Nascia a política pop, ambiente mediático em que a política e a cultura popular, a informação e o entretenimento, o cómico e o sério, o real e o irreal (surreal no livro) fundam uma nova cultura de expressão.

Do que se trata quando se lê o livro é da comunicação política, da popularização da política e da centralidade da representação mediática da política muito próxima da indústria do entretenimento. Os autores falam de uma contamonação de géneros, de uma hibridização, entre política e entretenimento. Melhor dizendo: há uma transformação do sistema político e da comunicação política em direcção à espectacularização e à personalização. Mazzoleni e Sfardini lembram algumas ocorrências: em 1992, quando Bush pai e Clinton concorreram às eleições americanas, um discreto Ross Perot é entrevistado no talk show Larry King Live. A fama do candidato pouco conhecido cresce de modo imprevisível - nascia uma estrela quase ofuscando as notícias sobre os outros candidatos. Em 2003, Arnold Scharzenegger, candidato a governador da Califórnia trazia uma bagagem nada despicienda: a de actor bem conhecido. No Tonight Show, de Jay Leno, ele avançou as suas propostas políticas (p. 15). O mesmo show seria palco para a candidata à vice-presidência Sarah Palin, em 2008. Nesse mesmo ano, Vladimir Luxuria, curioso nome de um antigo deputado da Rifondazione comunista (Itália) participava no reality show Casa dos Famosos, tornado um espaço de política e espectáculo, que ele aproveitou para lançar as suas ideias em termos de politicamente correcto. O programa seria a rampa de lançamento para uma candidatura sua ao parlamento europeu (p. 17). Por seu lado, os músicos e cantores pop e rock usam a sua popularidade para fazer incursões na política, como U2, Springsteen, Beyoncé, levando o grande público a conhecer e aceitar programas políticos.

Estamos, escrevem os professores de Milão, na era do politainment (por extensão de infotainment e soft news). O politainment é o fenómeno que cruza a política e a dialéctica democrática com a cultura do entretenimento (p. 31). O sério, o carismático e o cómico, o público e o mais íntimo juntam-se, acrescentam os autores, onde se joga a credibilidade face ao entretenimento (p. 52).

Claro que há um alvo preferido por Gianpietro Mazzoleni e Anna Sfardini - a política pop italiana e o seu mestre, Silvio Berlusconi. Daí a ênfase na mediatização italiana (p. 56). Personalização, comercialização, espectacularização e comunicação (o grande comunicador) estão sempre presentes em Berlusconi. Ora, para existir Berlusconi, isso quer dizer que tem de haver um espectador que se sinta chamado e aceite (p. 106). Por isso, os autores fazem um levantamento de programas de televisão como Ballarò, Porta a porta, Annozero, Matrix, Che tempo che fa, La invasioni barbariche e muitos outros (p. 110), que misturam infotainment e politainment e transformam a política em consumo pop.

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