Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
domingo, 15 de abril de 2012
Conferência: que desafios colocam os novos media ao jornalismo?
Ontem, foi o dia da segunda conferência organizada pelo Fórum de Jornalistas, sob o título Jornalismo em tempo de crise, em duas sessões, a primeira das quais um wokshop sobre direito laboral. A segunda sessão, os novos media: que desafios colocam ao jornalismo e aos jornalistas?, teve a participação de António Granado, Paulo Querido e Joaquim Vieira.
António Granado, no seu estilo direto e objetivo, começou a sua intervenção por dizer que o jornalismo como profissão está em desagregação. Para ele, a causa não reside na internet e no Google e outros agregadores roubarem as notícias dos jornais, mas na tensão entre o jornalismo e o negócio. A atual desregulação do mercado laboral afeta a profissão, com novas formas de emprego (flexibilização, freelacer), o que impede o exercício do que se chamava jornalismo. A profissão depende cada vez mais do empregador, que efetua vários modos de controlo empresarial (controlo de horários, avaliação de desempenho). Depende também do que os consultores dizem aos empregadores nas sucessivas ondas de reformulação dos media, com o objetivo mais evidente de reduzir custos. O conferencista ainda se referiu à nova característica de multitarefa, com controlo verticalizado onde a discussão interna é cada vez menor. A necessidade de executar multitarefas reduz tempo para confirmar as notícias, a função nobre do jornalista. A organização e a produtividade tornam-se mais importantes que as reuniões de editores onde se recebem ordens e desapareceu a discussão. O que pode mudar para que se continue a falar de jornalismo?
António Granado enunciou cinco características essenciais do jornalismo/jornalista: 1) contador de histórias, 2) importância da confirmação das informações que se recebem na redação, 3) menor espaço para jornalistas generalistas, 4) reforço da deontologia, 5) convívio dos jornalistas com as fontes exteriores (jornalismo cidadão, blogues).
Paulo Querido também enunciou cinco princípios para o jornalismo que têm em conta as mudanças efetuadas com os novos media: 1) direto (notícia como fluxo contínuo, permanentemente atualizada), 2) social (a audiência intervém no jornalismo: jornalismo cidadão), 3) inovação (a sociedade reticular exige novas competências e constante atualização do jornalista), 4) trabalho computadorizado (com aprendizagem da programação, que pode ir do HTLM ao Javascript), 5) desconcentração (ou desagregação, com pulverização dos media de massa e criação de pequenas empresas com aproveitamento de nichos de mercado e de ideias). Joaquim Vieira apontou igualmente linhas de modernização, alertando para os jornalistas, que tendem a ser conservadores (pelo menos tecnologicamente). A infografia e o uso do Facebook como coletor de informação foram duas ideias deixadas por ele.