O futebol é um fenómeno de massas com épocas e rituais próprios. O campeonato nacional de equipas decorre em simultâneo um campeonato europeu das melhores equipas, a que se sucede um campeonato europeu ou mundial de países. Ao longo da vida, recordo-me de vitórias e derrotas, de maiores sucessos ou maiores insucessos. A televisão transformou o modo como nós vemos esse jogo, com coreografias específicas que a montagem ou a ligação de várias câmaras permite, do mesmo modo que a rádio fizera uma estética particular, em que o modo de relatar e de transmitir o golo foi um código lentamente elaborado até ficar património coletivo de algumas gerações.
O atual ciclo é o do Europeu, iniciado no final da semana passada. Do consumo no lar passou-se para o ecrã gigante na rua. Que eu saiba, em Lisboa, há um ecrã gigante a funcionar no Campo Pequeno (dentro da praça multiusos, outrora apenas arena de touros) e fora, ao passo que no Porto há uma tela gigante na Praça D. João I. Multidões juntam-se para ver Portugal jogar, habilmente aproveitado por uma empresa de cervejas. Aos anunciantes diretos na rádio, cuja publicidade era lida pelo relatador, sucederam-se os clips ou cartões de televisão. Hoje, há mais plataformas, que trazem anunciantes de uma só marca e que vivem do consumo imediato.
Cria-se um novo património coletivo, em que a partilha da "comunidade imaginada" (Benedict Anderson) aparece ancorada a um consumo determinado [imagens de P. C., feitas no Campo Pequeno, aqui em Lisboa, a partir de telemóvel].