Interior (Costureiras Trabalhando), óleo sobre tela de Marques de Oliveira (1884), é uma cena que representa uma pacata vida familiar, com três mulheres em casa, costurando e bordando, no silêncio da sala de trabalho. À falta de um terceiro modelo, a mulher de Marques de Oliveira é pintada duas vezes, em posições distintas e com outro vestuário, e na casa do próprio artista. Há igualmente uma pintura sobre a pintura, pois o centro da tela mostra uma paisagem através de uma porta aberta de par em par: um jardim com árvores em dia brilhante. O sol entra do lado esquerdo da pintura, iluminando mais a mulher que se senta naquele lado, projetando-se num jarro com água, com uma sombra esbatida na parede. Essa mulher à esquerda, de costas, debruça-se sobre o trabalho numa máquina de costura, à época da pintura um objeto muito moderno. Ainda deste lado, alguns quadros na parede indicam a casa de uma família com algumas posses. Um pormenor: um dos quadros não tem moldura, o que permite a seguinte interpretação: só um artista aceita colocar na parede uma pintura sem moldura. Do lado direito, em penumbra, como quem entra num espaço às escuras, vislumbram-se peças de mobiliário e algumas roupas.
Já havia passado por, e olhado para, o quadro múltiplas vezes, das vezes que percorri a pintura exposta no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto. Mas só agora me apercebi destes pormenores, ouvindo a responsável pela visita guiada. Histórias das obras, enquadramento geral do trabalho dos artistas e contexto mais geral da sociedade em que as obras são produzidas – só assim é possível entrarmos em cada uma das representações pictóricas expostas.
Mas, além de Marques de Oliveira, ouvi explicações entusiasmantes sobre pintores como Silva Porto e Henrique Pousão ou sobre as origens do romantismo, afinal um dos melhores conjuntos daquele espaço cultural. É isso que torna fascinante ir a um museu.