No passado dia 29 de Dezembro de 2012, a SIC Notícias, no programa Perdidos e Achados, passou um documentário dedicado a "Simplesmente Maria", o folhetim radiofónico de maior sucesso (acedido em 1 de Janeiro de 2013), de onde retiro todo o material deste texto.
Emitido pela Rádio Renascença a partir de Março de 1973, das 13:30 às 14:30, teve duzentos episódios, que passaram para além do 25 de Abril de 1974, data da mudança de regime político no país, o que fez perigar a continuação da radionovela. Esta contava a história de Maria Ramos, uma rapariga de 20 anos, analfabeta e com oito irmãos, chegada de uma pequena aldeia a Lisboa para trabalhar como empregada (criada de servir, na designação da época), enviando todo o dinheiro ganho para a família.
Maria (interpretada por Francisca Maria, já falecida) acabaria por conhecer um jovem de boas famílias a acabar medicina, Alberto (João Lourenço, actual responsável pelo Teatro Aberto), de quem engravidou e teve um filho, Tony (interpretado por Carlos Queiroz, a trabalhar actualmente no Reino Unido) [Francisca Maria, na imagem]. A família de Alberto, que condenou o romance entre ele e Maria, mandou-o para África. Outras personagens principais seriam a patroa de Maria (Adelaide João no papel), Teresa, a criada da casa ao lado (com Mimi Gaspar no papel), Carlos, o amigo de Alberto (desempenhado por Rui Mendes), que namorava Teresa. Se Teresa critica a jovem criada de trabalhar muito e lhe dava dicas para se relacionar com a patroa, Carlos gracejava sobre os avanços da conquista de Alberto.
A radionovela traçava uma realidade social das décadas de 1950 e 1960, quando jovens mulheres arribavam à grande cidade para trabalhar em casas abastadas. Na história, Maria, por exemplo, trazia uma autorização do pai para trabalhar, marca significativa da época e da condição da mulher. Original da Argentina, com Tomé de Barros Queiroz como produtor e Paulo Renato como director, a radionovela teve um enorme impacto na sociedade portuguesa em grande transformação. Na altura, as alterações tecnológicas favoreciam a escuta, sendo habitual as pessoas levarem os seus pequenos rádios transistorizados ao ouvido, como hoje se vêem as pessoas a telefonar.
Não se conhecia a identidade das personagens. Esse segredo aumentava o mistério e a curiosidade em volta de Simplesmente Maria. Só agora é que se terá revelado publicamente o nome de Francisca Maria, então com 29 anos, no papel de Maria Ramos. Mas, na época, o nome do actor que desempenhava o papel de Tony, o filho de Maria, foi revelado acidentalmente. Carlos Queiroz casou-se (na vida real) com Rossalyn Edwards e a revista Plateia conseguiu revelar que ele era a personagem Tony, o que o obrigou a pedir desculpas a toda a equipa de produção da radionovela, por ter quebrado a obrigação de não mostrar a sua identidade.
Então, Francisca Maria vinha dos programas radiofónicos infantis da Emissora Nacional, Mimi Gaspar, a mulher do produtor Tomé de Barros Queiroz tinha 40 anos e uma actividade ligada ao canto lírico e ao teatro e João Lourenço e Rui Mendes eram já dois actores confirmados.
A história, como escrevi acima, provinha da Argentina, assente em contornos reais, com a verdadeira Maria a chegar a ser proprietária de lojas de roupa, depois de se dedicar à costura, recebendo apoio de um homem mais velho.
A radionovela passou a telenovela no Brasil, através da TV Tupi, ao cinema em Espanha e a história de Maria também chegou à Rússia. Em Portugal, a presença de uma criança na história levou a que a produtora (e a Renascença) recebessem presentes, como brinquedos, cartas e dinheiro. A Maria, por seu lado, eram enviadas máquinas de costura, para ajudar na sua nova carreira.
Em 1973, a radionovela foi acompanhada pela produção de uma revista semanal, ao passo que a cantora Tonicha fazia sucesso com a cantiga Simplesmente Maria, uma adaptação do original.
A peça transmitida na SIC tem a duração de 17:03 e é de autoria da jornalista Isabel Osório.