Em dias quase seguidos, o jornal Público editou duas entrevistas feitas a altos responsáveis da cultura. Primeiro, coube a vez a Jorge Barreto Xavier, no cargo de secretário de Estado da Cultura desde Outubro do ano passado (Vanessa Rato e Joana Amaral Cardoso, Público, 8 de Fevereiro), depois, a entrevistada foi Isabel Cordeiro, responsável da Direcção-Geral do Património Cultural, no lugar também desde a mesma altura (Isabel Salema e Lucinda Canelas, Público, 10 de Fevereiro). Três ou quatro páginas de texto, ambos com chamada de primeira página, dão conta do investimento feito pelo jornal a nível da cultura. Nestas chamadas de capa, seriam escolhidos dois temas fulcrais na acção governativa ou dirigente: cinema, património. Embora de igual relevo, diria que uma entrevista é mais política (a do secretário de Estado) e a outra tem contornos mais culturais e de relacionamento entre áreas (a da directora do património). As idades dos dois é próxima: 48 anos em Barreto Xavier, 46 anos em Isabel Cordeiro. Em ambos a ambição de deixar coisas feitas nas suas lideranças (as entrevistas servem para dar conta destes estados de alma; o balanço vem depois de cumpridas as funções).
Jorge Barreto Xavier enfrenta um sector exterior (a produção de cultura e arte) exangue: cortes, não lançamento de apoios e atrasos de cumprimento de obrigações por parte do Estado. O governante garante que estão a ser cumpridos calendários e metas. Mas subsistem dúvidas. Por exemplo, no cinema, a verba de 10,19 milhões de euros de apoios à produção em 2013 corre o risco de não ser concretizada: há uma quebra de espectadores nas salas de cinema, os canais de televisão de sinal aberto podem não contribuir com os montantes estipulados, por redução de audiências e investimentos publicitários, e os canais de televisão por cabo, com maiores audiências, não foram tidos nessa nova distribuição de espectadores. Explica a necessidade de cortes (30% na Casa da Música, 20% no CCB) mas destaca a importância e o interesse do governo nessas duas instituições. Ele fala de uma postura assente em cinco vectores: pluralidade, coesão, identidade, resiliência e crescimento. Como conciliar o lado teórico com a prática criativa?
Barreto Xavier não dá respostas ideológicas, pois a palavra parece-lhe limitada, não encontra dificuldade em conciliar as suas expectativas anteriores (crescimento da produção e consumo da cultura com maiores apoios do Estado) com a actual situação de controlo e restrições orçamentais. À pergunta da possível exclusão de criadores como Olga Roriz em termos de apoios às artes, responde com cautela ao indicar que se devem encontrar caminhos transparentes e de menor burocracia na acção do Estado. Destaco como pontos curiosos: 1) insistência em encontrar uma norma distinta da marxista e da neoliberal em termos de economia da cultura, 2) relação entre tempo e espaço, a privilegiar este último e a incorporar as margens (leio: a experimentação, a inovação, a criatividade, em suma).
Isabel Cordeiro, com uma experiência rica ligada aos museus (veio de directora do Palácio Nacional de Queluz), traz uma preocupação com a classificação dos bens patrimoniais, que distingue entre monumentos nacionais, de interesse público e de interesse municipal. O que ela pretende proteger são, como diz, os referenciais absolutos de cultura, o que mexe com a identidade nacional e o que tem valor de excepcionalidade. Do que falta classificar, ela lembra realidades culturais mais difusas como a Avenida da Liberdade ou as Minas de São Domingos. E esclarece as razões de transferência de monumentos até agora afectos à Direcção-Geral e que passaram para as autarquias como o Convento de Jesus (Setúbal) e a Sé de Santarém, por questões de proximidade e uma melhor gestão desses bens. O novo Museu dos Coches é algo que a nova responsável do património cultural promete gerir com atenção (creio que não consegue disfarçar a sua oposição a um projecto que está a chegar à sua conclusão): hoje, o museu custa 600 mil euros por ano, o novo vai necessitar de 3,5 milhões de euros, o que quer dizer que os actuais 200 mil visitantes precisam de subir para 600 mil por ano, para equilibrar as contas.
É que o orçamento que Isabel Cordeiro vai gerir em 2013 anda à volta de 40 milhões de euros, 19 milhões vindos do orçamento de Estado, 13 de receitas próprias e o restante de fundos comunitários. Ela dá um grande peso às receitas próprias, pelo que as visitas gratuitas ao domingo de manhã estão condenadas a desaparecer (e a ser substituída por gratuitidade apenas a uma tarde de domingo por mês, no que me parece uma medida incorrecta). Há também um dispositivo teórico (e prático) na sua visão da função: mais polivalência, mais capacidade de liderança e mais concorrência em termos de fontes de financiamento. Por outro lado, as relações com instituições internacionais representam um dos seus objectivos programáticos.
Jorge Barreto Xavier enfrenta um sector exterior (a produção de cultura e arte) exangue: cortes, não lançamento de apoios e atrasos de cumprimento de obrigações por parte do Estado. O governante garante que estão a ser cumpridos calendários e metas. Mas subsistem dúvidas. Por exemplo, no cinema, a verba de 10,19 milhões de euros de apoios à produção em 2013 corre o risco de não ser concretizada: há uma quebra de espectadores nas salas de cinema, os canais de televisão de sinal aberto podem não contribuir com os montantes estipulados, por redução de audiências e investimentos publicitários, e os canais de televisão por cabo, com maiores audiências, não foram tidos nessa nova distribuição de espectadores. Explica a necessidade de cortes (30% na Casa da Música, 20% no CCB) mas destaca a importância e o interesse do governo nessas duas instituições. Ele fala de uma postura assente em cinco vectores: pluralidade, coesão, identidade, resiliência e crescimento. Como conciliar o lado teórico com a prática criativa?
Barreto Xavier não dá respostas ideológicas, pois a palavra parece-lhe limitada, não encontra dificuldade em conciliar as suas expectativas anteriores (crescimento da produção e consumo da cultura com maiores apoios do Estado) com a actual situação de controlo e restrições orçamentais. À pergunta da possível exclusão de criadores como Olga Roriz em termos de apoios às artes, responde com cautela ao indicar que se devem encontrar caminhos transparentes e de menor burocracia na acção do Estado. Destaco como pontos curiosos: 1) insistência em encontrar uma norma distinta da marxista e da neoliberal em termos de economia da cultura, 2) relação entre tempo e espaço, a privilegiar este último e a incorporar as margens (leio: a experimentação, a inovação, a criatividade, em suma).
Isabel Cordeiro, com uma experiência rica ligada aos museus (veio de directora do Palácio Nacional de Queluz), traz uma preocupação com a classificação dos bens patrimoniais, que distingue entre monumentos nacionais, de interesse público e de interesse municipal. O que ela pretende proteger são, como diz, os referenciais absolutos de cultura, o que mexe com a identidade nacional e o que tem valor de excepcionalidade. Do que falta classificar, ela lembra realidades culturais mais difusas como a Avenida da Liberdade ou as Minas de São Domingos. E esclarece as razões de transferência de monumentos até agora afectos à Direcção-Geral e que passaram para as autarquias como o Convento de Jesus (Setúbal) e a Sé de Santarém, por questões de proximidade e uma melhor gestão desses bens. O novo Museu dos Coches é algo que a nova responsável do património cultural promete gerir com atenção (creio que não consegue disfarçar a sua oposição a um projecto que está a chegar à sua conclusão): hoje, o museu custa 600 mil euros por ano, o novo vai necessitar de 3,5 milhões de euros, o que quer dizer que os actuais 200 mil visitantes precisam de subir para 600 mil por ano, para equilibrar as contas.
É que o orçamento que Isabel Cordeiro vai gerir em 2013 anda à volta de 40 milhões de euros, 19 milhões vindos do orçamento de Estado, 13 de receitas próprias e o restante de fundos comunitários. Ela dá um grande peso às receitas próprias, pelo que as visitas gratuitas ao domingo de manhã estão condenadas a desaparecer (e a ser substituída por gratuitidade apenas a uma tarde de domingo por mês, no que me parece uma medida incorrecta). Há também um dispositivo teórico (e prático) na sua visão da função: mais polivalência, mais capacidade de liderança e mais concorrência em termos de fontes de financiamento. Por outro lado, as relações com instituições internacionais representam um dos seus objectivos programáticos.
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