O homem (Jorge Loureiro), de cerca de quarenta anos, entrou na igreja para a missa de sétimo dia do pai. Ao fim da tarde abatera-se sobre o local um grande temporal. Ainda não chegara ninguém, nem a mãe, até que entrou o velho sócio do pai. Em tempos, eles tinham sido proprietários de uma pastelaria, de luxo dizia o velho sócio, de quinta categoria dizia o homem. Desde o começo do encontro dentro da igreja, descobre-se um grande ódio que o homem tem pelo velho, de quem desconfiava ter sido amante da sua mãe. Poderia ter contado ao pai, mas desfazia o casamento. Ao invés, o velho tem uma grande simpatia pelo homem.
Há um diálogo intenso e duro. Por vezes, as duas personagens sentam-se ao lado dos espectadores, pois a sala funciona como o espaço de reza dos crentes. A mim, à minha esquerda, calhou o velho sócio (António Reis). Aquele vozeirão grave a entrar junto a mim impressionou-me muito. Perguntaria ele: "Já olhaste bem para mim, para a minha idade, para a minha bengala...? Eu sou uma obsessão na tua vida e não sabia". O velho admirava-se sobre o defunto, pois pensara que morreria antes dele.
Num segundo quadro, o homem espera a família para a missa do sétimo dia do sócio do seu pai. O primeiro a aparecer é o pai (António Reis), que comenta pensar que morreria antes do falecido. A história aparece como que invertida, o que nos faz compreendê-la melhor. De repente, o pai diz ao homem que nem sempre os dois falaram tudo o que deviam e conta que o falecido é que era o seu verdadeiro pai. Continua: "sempre foste mais ligado à tua mãe, não me prestavas atenção. Eu também estava lá, mas tu não me vias". Momento de pânico: o homem fica desconcertado: "Então, por que é que nunca me ensinou? Eu não sabia que pensavas desse jeito tão liberal".
A trovoada continua, ninguém aparece na missa. O homem mantém-se à espera. Até que o padre (António Reis) entra e dirige-se aquele filho (de Deus) que já estava à muito a rezar. O homem mostra a sua preocupação: um terceiro a chamar-lhe filho. "Vamos começar a missa?", pergunta o padre. Agora, a conversa toma um outro rumo; afinal, os homens falam pouco uns com os outros, economizam nas palavras e geram mal entendidos. A conversa é mais do género feminino, como a conversa da ex-mulher daquele homem perdido na igreja. "Vá aprender a seduzir", aconselhara o velho sócio do pai (afinal o seu verdadeiro pai). Lições, sermões, advertências, escreveu Dib Carneiro Neto.
Adivinhe quem vem para rezar é uma peça do brasileiro Dib Carneiro Neto, 51 anos, de ascendência libanesa, que escreveu no O Estado de S. Paulo durante vinte anos e agora se dedica à escrita de peças. Estreou em 2005 no Brasil e já foi representada na Argentina e no Paraguai. A encenação portuguesa pertence a Júlio Cardoso, uma peça do Seiva Troupe (Porto).
Há um diálogo intenso e duro. Por vezes, as duas personagens sentam-se ao lado dos espectadores, pois a sala funciona como o espaço de reza dos crentes. A mim, à minha esquerda, calhou o velho sócio (António Reis). Aquele vozeirão grave a entrar junto a mim impressionou-me muito. Perguntaria ele: "Já olhaste bem para mim, para a minha idade, para a minha bengala...? Eu sou uma obsessão na tua vida e não sabia". O velho admirava-se sobre o defunto, pois pensara que morreria antes dele.
Num segundo quadro, o homem espera a família para a missa do sétimo dia do sócio do seu pai. O primeiro a aparecer é o pai (António Reis), que comenta pensar que morreria antes do falecido. A história aparece como que invertida, o que nos faz compreendê-la melhor. De repente, o pai diz ao homem que nem sempre os dois falaram tudo o que deviam e conta que o falecido é que era o seu verdadeiro pai. Continua: "sempre foste mais ligado à tua mãe, não me prestavas atenção. Eu também estava lá, mas tu não me vias". Momento de pânico: o homem fica desconcertado: "Então, por que é que nunca me ensinou? Eu não sabia que pensavas desse jeito tão liberal".
A trovoada continua, ninguém aparece na missa. O homem mantém-se à espera. Até que o padre (António Reis) entra e dirige-se aquele filho (de Deus) que já estava à muito a rezar. O homem mostra a sua preocupação: um terceiro a chamar-lhe filho. "Vamos começar a missa?", pergunta o padre. Agora, a conversa toma um outro rumo; afinal, os homens falam pouco uns com os outros, economizam nas palavras e geram mal entendidos. A conversa é mais do género feminino, como a conversa da ex-mulher daquele homem perdido na igreja. "Vá aprender a seduzir", aconselhara o velho sócio do pai (afinal o seu verdadeiro pai). Lições, sermões, advertências, escreveu Dib Carneiro Neto.
Adivinhe quem vem para rezar é uma peça do brasileiro Dib Carneiro Neto, 51 anos, de ascendência libanesa, que escreveu no O Estado de S. Paulo durante vinte anos e agora se dedica à escrita de peças. Estreou em 2005 no Brasil e já foi representada na Argentina e no Paraguai. A encenação portuguesa pertence a Júlio Cardoso, uma peça do Seiva Troupe (Porto).