Sociologia da Cultura. Perfil de uma carreira, de Maria de Lourdes Lima dos Santos é um livro que se lê com muito interesse. Como o subtítulo deixa antever, trata-se de um volume que recolhe muitos dos textos produzidos por Maria de Lourdes Lima dos Santos (1935).
Como esta professora escreve na nota prévia, ao longo de cerca de 40 anos de carreira profissional (1966-2005), ela escreveu textos para publicações periódicas em ciências sociais, textos para as disciplinas de sociologia que leccionou, textos para congressos, textos de projectos (livros e relatórios), textos com ideias para aprofundar e reflectir (p. 15).
Atravessou o grupo de bolseiros da Gulbenkian do Instituto de Ciências Sociais, chegou a investigadora coordenadora e foi presidente do Observatório de Actividades Culturais. A sociologia da Cultura foi a área onde a autora esteve mais ligada, desde a primeira disciplina com aquele nome na universidade portuguesa (1983), onde fez o doutoramento e as provas de agregação e onde organizou e dirigiu o observatório acima indicado. Nesse sentido, escreve, os textos agora publicados são o retomar da sociologia da cultura, e o consequente remeter para a sua carreira.
A primeira parte do livro aborda as diversas fases da sua carreira, quase no tempo da criação do GIS (Gabinete de Investigações Sociais), actual ICS, e da revista Análise Social, por Adérito Sedas Nunes (p. 19). Já na década de 1980, a autora acompanha o reconhecimento da sociologia como carreira, com a licenciatura do ISCTE, a institucionalização do GIS (ICS) e a constituição da Associação Portuguesa de Sociologia (p. 21). Se a terceira parte da sua carreira acompanha a década de 1990, com coordenação crescente de projectos e orientações, enquanto dedica atenção a temas como a convivialidade e o lazer (p. 26), o quarto período é o do Observatório de Actividades Culturais (p. 33).
A segunda parte do livro aborda os escritos ao longo da carreira, como as noções de cultura (grande cultura, popular, de massas) (com uma leitura cuidada da produção literária francesa sobre o tema), raridade e reprodutibilidade (onde escreve sobre Benjamin, Dorfles, Bordieu e Lipovetsky), novos mundos da arte e da cultura (com precisa referência à heterogeneidade dos públicos, em 1994 e que se repercute nos textos posteriores, como o que coordena sobre os públicos do Porto capital da cultura), a cultura mediática e as indústrias culturais, cultura dos ócios (onde define a composição das minorias cultivadas, 1995). Maria de Lourdes Lima dos Santos dedica o espaço central do livro a um texto de 1979 sobre intelectuais e artistas no século XIX (trabalho para a tese de doutoramento), a que se segue a conceptualização de públicos de cultura, a meu ver uma das melhores elaborações teóricas aqui presentes.
Público leitor, públicos do Festival de Almada, do teatro S. João e do Porto 2001, apresentações de outros tantos volumes editados pelo Observatório, e públicos da cultura (resultado de um encontro em 2003) adquiram, na época da publicação, uma grande importância na formação e discussão intelectual no país. No seguimento, a autora estuda a relação entre cultura e economia, nomeadamente o mecenato, de que faz uma resenha elaborada das políticas governamentais. Dos trabalhos que li da professora do ICS, o que mais me marcou foi "Indústrias culturais: especificidades e precariedades", de 1999. O ponto de partida foi a relação tripla das indústrias culturais com 1) as outras indústrias, 2) entre si e 3) as outras formas culturais.
Estudo das galerias de arte, políticas culturais nacionais e europeias, e transformações no domínio da cultura de 1974 a 2004 são outros temas a ler com atenção. A última parte da obra é dedicada a guiões das aulas, em especial as leccionadas entre 1983 e 1998. Aqui observa-se uma espécie de textura, de construção do tecido teórico, da experimentação contínua do trabalho do docente. Olhando estas páginas aprende-se muito como se processa a evolução e a maturação de um pensamento.
Leitura: Maria de Lourdes Lima dos Santos (2012). Sociologia da Cultura. Perfil de uma carreira. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 511 p., 30 €
Como esta professora escreve na nota prévia, ao longo de cerca de 40 anos de carreira profissional (1966-2005), ela escreveu textos para publicações periódicas em ciências sociais, textos para as disciplinas de sociologia que leccionou, textos para congressos, textos de projectos (livros e relatórios), textos com ideias para aprofundar e reflectir (p. 15).
Atravessou o grupo de bolseiros da Gulbenkian do Instituto de Ciências Sociais, chegou a investigadora coordenadora e foi presidente do Observatório de Actividades Culturais. A sociologia da Cultura foi a área onde a autora esteve mais ligada, desde a primeira disciplina com aquele nome na universidade portuguesa (1983), onde fez o doutoramento e as provas de agregação e onde organizou e dirigiu o observatório acima indicado. Nesse sentido, escreve, os textos agora publicados são o retomar da sociologia da cultura, e o consequente remeter para a sua carreira.
A primeira parte do livro aborda as diversas fases da sua carreira, quase no tempo da criação do GIS (Gabinete de Investigações Sociais), actual ICS, e da revista Análise Social, por Adérito Sedas Nunes (p. 19). Já na década de 1980, a autora acompanha o reconhecimento da sociologia como carreira, com a licenciatura do ISCTE, a institucionalização do GIS (ICS) e a constituição da Associação Portuguesa de Sociologia (p. 21). Se a terceira parte da sua carreira acompanha a década de 1990, com coordenação crescente de projectos e orientações, enquanto dedica atenção a temas como a convivialidade e o lazer (p. 26), o quarto período é o do Observatório de Actividades Culturais (p. 33).
A segunda parte do livro aborda os escritos ao longo da carreira, como as noções de cultura (grande cultura, popular, de massas) (com uma leitura cuidada da produção literária francesa sobre o tema), raridade e reprodutibilidade (onde escreve sobre Benjamin, Dorfles, Bordieu e Lipovetsky), novos mundos da arte e da cultura (com precisa referência à heterogeneidade dos públicos, em 1994 e que se repercute nos textos posteriores, como o que coordena sobre os públicos do Porto capital da cultura), a cultura mediática e as indústrias culturais, cultura dos ócios (onde define a composição das minorias cultivadas, 1995). Maria de Lourdes Lima dos Santos dedica o espaço central do livro a um texto de 1979 sobre intelectuais e artistas no século XIX (trabalho para a tese de doutoramento), a que se segue a conceptualização de públicos de cultura, a meu ver uma das melhores elaborações teóricas aqui presentes.
Público leitor, públicos do Festival de Almada, do teatro S. João e do Porto 2001, apresentações de outros tantos volumes editados pelo Observatório, e públicos da cultura (resultado de um encontro em 2003) adquiram, na época da publicação, uma grande importância na formação e discussão intelectual no país. No seguimento, a autora estuda a relação entre cultura e economia, nomeadamente o mecenato, de que faz uma resenha elaborada das políticas governamentais. Dos trabalhos que li da professora do ICS, o que mais me marcou foi "Indústrias culturais: especificidades e precariedades", de 1999. O ponto de partida foi a relação tripla das indústrias culturais com 1) as outras indústrias, 2) entre si e 3) as outras formas culturais.
Estudo das galerias de arte, políticas culturais nacionais e europeias, e transformações no domínio da cultura de 1974 a 2004 são outros temas a ler com atenção. A última parte da obra é dedicada a guiões das aulas, em especial as leccionadas entre 1983 e 1998. Aqui observa-se uma espécie de textura, de construção do tecido teórico, da experimentação contínua do trabalho do docente. Olhando estas páginas aprende-se muito como se processa a evolução e a maturação de um pensamento.
Leitura: Maria de Lourdes Lima dos Santos (2012). Sociologia da Cultura. Perfil de uma carreira. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 511 p., 30 €
Sem comentários:
Enviar um comentário