Sylvia Moretzsohn editou o livro Repórter no volante, um relato de como os motoristas são elementos importantes nas reportagens mas negligenciados na notícia. A autora coloca o motorista no centro do livro: "em geral provenientes das camadas mais pobres da população, conhecedores de todos os cantos da cidade e muito hábeis ao volante, esses profissionais transmitem, antes de tudo, uma sensação de segurança para a equipa de reportagem" (p. 10). A habilidade na condução do veículo é fundamental para a segurança do jornalista (p. 41), repete quase sem cessar Sylvia Moretzsohn, antiga repórter e hoje docente na Universidade Federal Fluminense.
Os media retratados são os jornais e as rádios de Rio de Janeiro, com os motoristas a conduzirem repórteres e fotógrafos em busca de "matéria" para os seus trabalhos, em especial notícias sobre criminalidade e banditismo nas comunidades (favelas). Alguns dos motoristas viveram nesses locais mais perigosos (p. 44) e conhecem soluções úteis para ultrapassar situações complexas, imprevistas e perigosas. Por via disso, o motorista tem mais facilidade a aceder a fontes de informação informais, imprescindíveis para obter dados secundários mas que se podem revelar fundamentais, e apoiavam os fotógrafos num tempo pré-digital, em que era necessário montar o laboratório de revelação fotográfico (p. 42).
A base do trabalho de Sylvia Moretzsohn foram entrevistas a actuais e antigos motoristas, feitas em 2011, gravadas em áudio e muitas também em vídeo (p. 13). Ela dá conta do crescimento da frota automóvel dos media impressos na década de 1950, caso do jornal A Última Hora (1951), onde se fizeram inovações como a profissionalização da redacção e a introdução da frota de carros de reportagem. Estes carros eram ainda aproveitados para a distribuição dos jornais. Na passagem da década de 1980 para a de 1990, o processo de terceirização atingiu o sector (p. 25), com a passagem da actividade de motorista para empresas independentes do jornal ou com o antigo profissional do jornal a tornar-se trabalhador autónomo, com carro próprio e salário mais baixo (p. 27), aqueles com um salário de 1200 reais mais horas extras e este com 880 reais (p. 31). A autora releva ainda a passagem do tipo de veículo: do jipe da década de 1950 para o carro blindado dos anos mais recentes, indicador de melhores vias de transporte ao mesmo tempo que aumento de violência urbana.
A segunda parte do livro contém uma selecção de entrevistas com motoristas (pp. 75-172), onde se identificam percursos de vida, ideais de solidariedade, muitas histórias e, acima de tudo, a colaboração entre jornalistas e motoristas, estes heróis sempre esquecidos do registo do sociólogo e do historiador, que a autora resgata de uma forma simples e objectiva.
Leitura: Sylvia Debossan Moretzsohn (2013). Repórter no volante. S. Paulo: Publifolha, 183 p.
Os media retratados são os jornais e as rádios de Rio de Janeiro, com os motoristas a conduzirem repórteres e fotógrafos em busca de "matéria" para os seus trabalhos, em especial notícias sobre criminalidade e banditismo nas comunidades (favelas). Alguns dos motoristas viveram nesses locais mais perigosos (p. 44) e conhecem soluções úteis para ultrapassar situações complexas, imprevistas e perigosas. Por via disso, o motorista tem mais facilidade a aceder a fontes de informação informais, imprescindíveis para obter dados secundários mas que se podem revelar fundamentais, e apoiavam os fotógrafos num tempo pré-digital, em que era necessário montar o laboratório de revelação fotográfico (p. 42).
A base do trabalho de Sylvia Moretzsohn foram entrevistas a actuais e antigos motoristas, feitas em 2011, gravadas em áudio e muitas também em vídeo (p. 13). Ela dá conta do crescimento da frota automóvel dos media impressos na década de 1950, caso do jornal A Última Hora (1951), onde se fizeram inovações como a profissionalização da redacção e a introdução da frota de carros de reportagem. Estes carros eram ainda aproveitados para a distribuição dos jornais. Na passagem da década de 1980 para a de 1990, o processo de terceirização atingiu o sector (p. 25), com a passagem da actividade de motorista para empresas independentes do jornal ou com o antigo profissional do jornal a tornar-se trabalhador autónomo, com carro próprio e salário mais baixo (p. 27), aqueles com um salário de 1200 reais mais horas extras e este com 880 reais (p. 31). A autora releva ainda a passagem do tipo de veículo: do jipe da década de 1950 para o carro blindado dos anos mais recentes, indicador de melhores vias de transporte ao mesmo tempo que aumento de violência urbana.
A segunda parte do livro contém uma selecção de entrevistas com motoristas (pp. 75-172), onde se identificam percursos de vida, ideais de solidariedade, muitas histórias e, acima de tudo, a colaboração entre jornalistas e motoristas, estes heróis sempre esquecidos do registo do sociólogo e do historiador, que a autora resgata de uma forma simples e objectiva.
Leitura: Sylvia Debossan Moretzsohn (2013). Repórter no volante. S. Paulo: Publifolha, 183 p.