quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Guerra dos Mundos 75 anos depois

Na noite de domingo 30 de outubro de 1938, na véspera do dia das bruxas nos Estados Unidos (halloween) a rede de rádio CBS transmitia o programa Mercury Theater. Um jovem e talentoso ator, Orson Welles, escolhera para aquela semana o romance de ficção científica A Guerra dos Mundos, escrita no final do século XIX pelo inglês H. G. Wells. A época era excecional: na Europa estava quase a iniciar-se um gravíssimo conflito: a Segunda Guerra Mundial. Os ânimos estavam exaltados. Na audição da peça um em cada cinco ouvintes não notara que era uma obra de ficção. Parte considerável dos ouvintes acreditaram que a Terra estava mesmo a ser invadida por marcianos. O pânico provocou acidentes em série. Além de tudo, o programa aparentava ser normal – com música transmitida de um concerto de dança interrompido bruscamente por uma notícia de última hora (adaptado da introdução de Eduardo Meditsch ao livro Rádio e Pânico 2).

Depois, a 25 de junho de 1958, um jovem locutor e realizador da Rádio Renascença, José Matos Maia, em Lisboa, levava a cabo uma emissão intitulada "A Invasão dos Marcianos". Agora, os extra-terrestres não aterravam em New Jersey, perto de Nova Iorque, mas aqui ao lado, em Carcavelos. O mesmo pânico (mas também a mesma curiosidade) que vinte anos antes nos Estados Unidos. Os telefones das esquadras da polícia ficaram entupidos com solicitações dos ouvintes. A polícia foi à Rádio Renascença e o programa não chegou ao fim. Depois, Matos Maia era interrogado na polícia política (PIDE). O polícia que falou com ele estava bem informado sobre o pânico gerado pela peça de Orson Welles e perguntou se Matos Maia não sabia que ia provocar semelhante situação. À despedida, disse-lhe: “desta vez, sai pela porta fora. Da próxima, já não sai daqui”.

Em homenagem aos 75 anos da emissão certamente mais famosa da rádio enquanto meio de comunicação, os grupos dos meus alunos de Edição Multimédia fizeram podcasts das duas peças, em excertos, em página do Facebook. Eles não se ouvem sequencialmente, mas a ideia era experimentar, encontrar sons e homenagear esses homens e as suas ideias. É também uma homenagem aos alunos.

wellesMaia