Diretamente da Torre do Tombo, a ler o arquivo da Mocidade Portuguesa:
"Exmº Senhor,
"Já tenho 15 anos feitos e a mamã não quer que eu leia romances ou dramas românticos. Proibiu-me tudo o que fosse horrível ou divertido. No dizer dela, tais leituras obscurecem a imaginação de uma rapariga da minha idade. Eu não acredito nisso e vou-me à biblioteca do papá e leio tudo o que me vem à mão. Não posso descrever o prazer que sinto em ler à noite, na cama, um livro que me tivessem proibido. Acontece que se esgotou a biblioteca do papá e não sei o que fazer.
"Não poderia o senhor, que escreve livros tão bonitos, escrever um pequeno drama e uma pequena obra, tipo série «negra» com coisas horríveis e amor à «Lord Byron»? Ficar-lhe-ia eternamente reconhecida e recomendaria a leitura do seu livro a todas as minhas amigas.
"1º post scriptum: faço questão que o livro acabe mal, e que a heroína morra, sem apelo nem agravo.
"2º post scriptum: se não vir qualquer inconveniente, gostaria muito que o herói se chamasse Afonso. É um nome tão bonito".
Texto apresentado na rubrica Tempo de Teatro, da Rádio Universidade, em 11 de maio de 1970. Coordenação do programa: Alexandre Ribeirinho, montagem: Jorge Baptista, assistência técnica: Ramos Brás, locução: Maria de Fátima e Eduardo Fidalgo. No mesmo dia ou em dias seguintes, John Lennon nessa frequência e estação (em programação da Emissora Nacional) cantava Give Peace a Chance. A guerra colonial em três frentes africanas estava no auge. Quando li que a música do beatle passava na rádio da Mocidade Portuguesa tive de voltar a ler e a confrontar datas. Mas está lá escrita a indicação. A Rádio Universidade - que pertencia à Mocidade Portuguesa, uma estrutura do Estado Novo - fora fundada em 3 de abril de 1950, a partir da compra da Rádio Luso, e "transmitia diariamente programas culturais e recreativos concebidos e realizados por estudantes em regime de puro amadorismo", a partir da rua de D. Estefânia, 14, em Lisboa.
"Exmº Senhor,
"Já tenho 15 anos feitos e a mamã não quer que eu leia romances ou dramas românticos. Proibiu-me tudo o que fosse horrível ou divertido. No dizer dela, tais leituras obscurecem a imaginação de uma rapariga da minha idade. Eu não acredito nisso e vou-me à biblioteca do papá e leio tudo o que me vem à mão. Não posso descrever o prazer que sinto em ler à noite, na cama, um livro que me tivessem proibido. Acontece que se esgotou a biblioteca do papá e não sei o que fazer.
"Não poderia o senhor, que escreve livros tão bonitos, escrever um pequeno drama e uma pequena obra, tipo série «negra» com coisas horríveis e amor à «Lord Byron»? Ficar-lhe-ia eternamente reconhecida e recomendaria a leitura do seu livro a todas as minhas amigas.
"1º post scriptum: faço questão que o livro acabe mal, e que a heroína morra, sem apelo nem agravo.
"2º post scriptum: se não vir qualquer inconveniente, gostaria muito que o herói se chamasse Afonso. É um nome tão bonito".
Texto apresentado na rubrica Tempo de Teatro, da Rádio Universidade, em 11 de maio de 1970. Coordenação do programa: Alexandre Ribeirinho, montagem: Jorge Baptista, assistência técnica: Ramos Brás, locução: Maria de Fátima e Eduardo Fidalgo. No mesmo dia ou em dias seguintes, John Lennon nessa frequência e estação (em programação da Emissora Nacional) cantava Give Peace a Chance. A guerra colonial em três frentes africanas estava no auge. Quando li que a música do beatle passava na rádio da Mocidade Portuguesa tive de voltar a ler e a confrontar datas. Mas está lá escrita a indicação. A Rádio Universidade - que pertencia à Mocidade Portuguesa, uma estrutura do Estado Novo - fora fundada em 3 de abril de 1950, a partir da compra da Rádio Luso, e "transmitia diariamente programas culturais e recreativos concebidos e realizados por estudantes em regime de puro amadorismo", a partir da rua de D. Estefânia, 14, em Lisboa.