terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Simone de Oliveira

A cinta que acompanha o livro apresenta-o como "a vida apaixonante de uma mulher que nunca desiste". Simone de Oliveira nasceu em Lisboa em 1938 e canta cantigas (p. 15). Tem dois filhos e alguns netos, ganhou festivais da canção como o de 1969 (Desfolhada) [participação na Eurovisão] e foi rainha da rádio e partilhou da mesma turma do liceu Pedro Nunes com Francisco Pinto Balsemão (p. 21). Casou aos dezanove anos (p. 25). A ida para o Centro de Preparação de Artistas da Rádio foi para esquecer a mágoa da rápida separação. Se ela perdeu o casamento, o país ganhou uma cantora de música ligeira cujo sucesso se estendeu por toda a década de 1960 e se prolongou por muito mais tempo.

O maestro Mota Pereira dirigia aquele centro ligado à Emissora Nacional. Ele perguntou-lhe se ela sabia o que era um microfone, ela respondeu que não mas que conhecia o piano. Cantou um bolero em castelhano (p. 29). Ao fim de três meses estava a cantar na rádio e, depois, na televisão. Era o ano de 1957. Depois, no Porto, conheceu um "moço, lindo, maravilhoso", no Porto (p. 30). Rapidamente, cartas de Lisboa seguiram para o Porto, do Porto vieram para Lisboa. Dessa relação tumultuosa, nasceram os dois filhos da artista.

O episódio relevante seguinte no livro (que se lê muito depressa, como é a marca das biografias) é a da canção Desfolhada (1969). Então, havia uma longa mas nunca pacífica paixão com Henrique Mendes, um dos principais locutores da rádio e da televisão da época. Explica Simone que nesse dia as coisas entre os dois "estavam mal, muito complicadas" (p. 45). Henrique Mendes assistiu ao espectáculo na companhia de outra senhora. Simone de Oliveira, 29 anos, que nem tinha ainda decorado convenientemente a letra da canção, foi para o palco e cantou-a com toda a fúria, uma interpretação de raiva, nas suas palavras (p. 46). Antes ainda tinham ficado sucessos como Sol de Inverno (1965), Se Tu Queres Saber Quem Sou e Fúria de Viver.

A história seguinte ocorreria logo depois. Ela perdeu a voz, não podia cantar (p. 48). Um jornal do Porto explicou as razões porque ela perdera a voz: bebida, tabaco, noitadas. Ela aceitou ir a uma rádio defender-se das acusações. E acabou a ficar a trabalhar na Rádio Peninsular, uma das estações dos Emissores Associados de Lisboa, no programa 1-8-0 (programa que ganharia um prémio da Casa da Imprensa). Depois, continua a contar, ligou-se ao teatro. Em 1974, seria convidada a entrar na peça A Menina Alice e o Inspector, encenada por Varela Silva. Este, austero, repreendia-a: "Minha senhora, não quero pés à vedeta" (p. 61). Ela não se apercebera que, quando dava as notas mais agudas, levantava ligeiramente o calcanhar direito. Corrigida a imperfeição, veio a paixão. Esta duraria até à morte de Alberto Varela Silva.

Para além da sua luta contra o cancro, doença com que lutou já duas vezes e de que conta histórias comoventes no livro, e da sua participação nas décadas mais recentes em telenovelas, retenho mais duas histórias. A primeira é a da sua rivalidade com Madalena Iglésias, a outra cantora da rádio que era apresentada como habitual candidata a ganhar os festivais da canção e o prémio de rainha da rádio. Havia uma possível competição entre as duas mas elas eram amigas. Quando foi a festa dos cinquenta anos de carreira de Simone de Oliveira, a outrora rival dela veio vê-la e estar com ela (p. 49) [em baixo, página retirada da revista Flama, de 27 de Janeiro de 1967].

A outra história é o retomar do episódio da perda da voz. Simone de Oliveira não diz no seu livro, mas a razão da explicação dela na Rádio Peninsular esteve no contrato que a ligava ao seu agente artístico, José Marques Vidal, que evoquei há dias aqui. Este fez publicar um longo comunicado a dar a sua visão do problema, que seria o da quebra de contrato. No final do comunicado, o produtor e agente escreveu citando a artista: "Na agência Marques Vidal adquiri uma grande disciplina profissional de que me não tinha ainda apercebido a valer. Disciplina no aproveitamento metódico dos ensaios, na presença no palco, nas relações e na participação que me cabe nos horários estabelecidos. Tudo programado com a devida antecedência e eu só tenho de integrar-me na ideia de que faço parte da máquina que o Marques Vidal tem feito trabalhar com o seu reconhecido dinamismo, a sua visão e a sua experimentada capacidade de orientador" (Plateia, 2 de Setembro de 1969).

Leitura: Simone de Oliveira e Patrícia Reis (2013). Simone. Força de Viver. Lisboa: Matéria-Prima, 181 páginas


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