Foi há quase três anos que assisti à representação da ópera Sansão e Dalila, de Camille Saint-Saëns, no Coliseu do Porto. A história baseia-se no "Livro dos Juízes" e narra a exortação de Sansão junto dos hebreus que choram a derrota diante dos filisteus. Depois, aparece Dalila, acompanhada de outras palestinianas, com flores e cânticos a celebrar a chegada da Primavera. Dalila procura seduzir Sansão. Preso numa prisão em Gaza, a Sansão cortam-lhe os cabelos e cegam-no, pelo que perdeu todo o seu poder. No terceiro acto da ópera, passado no interior de um templo, Sansão faz uma prece a Deus, que parece restituir-lhe a força. Mas o templo desaba e morrem Sansão, Dalila, o sacerdote e os outros presentes.
Guardei o bilhete porque quis escrever não sobre a ópera em si mas sobre dois fenómenos que observei. O primeiro foi a atitude de uma espectadora durante quase toda a representação, a consultar o seu telemóvel, a ler a sua página de Facebook. Hoje é ainda mais notória tal actividade em qualquer sítio onde se esteja, no cinema, num concerto. Além das redes sociais, há também a tendência para fazer fotografias. Alguns músicos nos concertos pedem para os seus fãs não fotografarem ou usarem o telemóvel em qualquer situação. Isso aconteceu na semana passada em concerto dado por Kate Bush.
O outro fenómeno analisado nesse dia de Outubro de 2011 foi a distância a que, a partir do balcão popular, me encontrava do palco (ver desenho da sala). O som da orquestra e dos cantores, mesmo que poderosos, chegavam até mim com alguma dificuldade. Pensei - porque não electrificar (amplificar)? No teatro musical, isso já constitui prática, com pequenos microfones no cabelo dos cantores ou junto à boca.
Sei que isto é heterodoxo, inculto mesmo. Mas a leitura de um capítulo do livro de Andrew Crisell (2012), Liveness & Recording in the Media, trouxe de novo a questão à minha cabeça. No que me parecem as melhores páginas do seu livro, Crisell escreve sobre o aparecimento do rock & roll e as mudanças na dimensão dos grupos (bandas, orquestras) e no registo sonoro. A guitarra eléctrica e os seus acessórios (tremolo, fuzz-box, câmara de eco) distorcem a música face à realidade instrumental até aí empregue. A potência da amplificação faz com que quatro a seis músicos tenham um som mais elevado que uma orquestra completa.
Na gravação, o que era registado de uma só vez passou a sê-lo por parcelas, primeiro os instrumentos e depois a voz. Nesta divisão de tarefas, o registo faz-se por fases (takes), ficando o registo final o da melhor fase. Crisell tem uma frase central e que explica bem a transformação: até ao rock & roll, a gravação procurava seguir o mais fielmente possível o concerto ao vivo; depois do rock & roll, o espectáculo ao vivo, que seguia o disco e a sua promoção, nunca consegue atingir a qualidade e a perfeição de som da gravação no estúdio. Crisell ironiza: as bandas rock, tentando mostrar que a sua música tem nível, promovem espectáculos unplugged (acústicos), mas precisam sempre de electricidade para amplificar vozes e instrumentos.
Guardei o bilhete porque quis escrever não sobre a ópera em si mas sobre dois fenómenos que observei. O primeiro foi a atitude de uma espectadora durante quase toda a representação, a consultar o seu telemóvel, a ler a sua página de Facebook. Hoje é ainda mais notória tal actividade em qualquer sítio onde se esteja, no cinema, num concerto. Além das redes sociais, há também a tendência para fazer fotografias. Alguns músicos nos concertos pedem para os seus fãs não fotografarem ou usarem o telemóvel em qualquer situação. Isso aconteceu na semana passada em concerto dado por Kate Bush.
O outro fenómeno analisado nesse dia de Outubro de 2011 foi a distância a que, a partir do balcão popular, me encontrava do palco (ver desenho da sala). O som da orquestra e dos cantores, mesmo que poderosos, chegavam até mim com alguma dificuldade. Pensei - porque não electrificar (amplificar)? No teatro musical, isso já constitui prática, com pequenos microfones no cabelo dos cantores ou junto à boca.
Sei que isto é heterodoxo, inculto mesmo. Mas a leitura de um capítulo do livro de Andrew Crisell (2012), Liveness & Recording in the Media, trouxe de novo a questão à minha cabeça. No que me parecem as melhores páginas do seu livro, Crisell escreve sobre o aparecimento do rock & roll e as mudanças na dimensão dos grupos (bandas, orquestras) e no registo sonoro. A guitarra eléctrica e os seus acessórios (tremolo, fuzz-box, câmara de eco) distorcem a música face à realidade instrumental até aí empregue. A potência da amplificação faz com que quatro a seis músicos tenham um som mais elevado que uma orquestra completa.
Na gravação, o que era registado de uma só vez passou a sê-lo por parcelas, primeiro os instrumentos e depois a voz. Nesta divisão de tarefas, o registo faz-se por fases (takes), ficando o registo final o da melhor fase. Crisell tem uma frase central e que explica bem a transformação: até ao rock & roll, a gravação procurava seguir o mais fielmente possível o concerto ao vivo; depois do rock & roll, o espectáculo ao vivo, que seguia o disco e a sua promoção, nunca consegue atingir a qualidade e a perfeição de som da gravação no estúdio. Crisell ironiza: as bandas rock, tentando mostrar que a sua música tem nível, promovem espectáculos unplugged (acústicos), mas precisam sempre de electricidade para amplificar vozes e instrumentos.
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