O terceiro capítulo do livro de Raymond Williams, Television, tem o nome de "Formas de Televisão", o segundo mais extenso. Williams começa por notar que a televisão combina e desenvolve formas de comunicação anteriores - jornal, reunião pública, classe de aula, teatro, cinema, estádio desportivo, anúncios de publicidade. Um outro meio electrónico, a rádio, serviu ainda de modelo à televisão.
O autor, um dos fundadores do grupo dos Cultural Studies britânicos, viu a televisão como tendo uma dupla influência face a esses outros media: de um lado, combinação e desenvolvimento de formas anteriores, de outro lado, formas mistas e novas.
No primeiro conjunto, ele associou notícias, argumentação e discussão (vindos do sermão, da conferência, do discurso político, e de onde emergiu a representação da opinião informada), educação (seminários ou conferências com professores comunicativos que geram grandes audiências), drama ou teatro (em que no começo da década de 1950 houve um significativo corpo de novos programas, onde, além da qualidade, surgiram as soap operas, de grande popularidade), filmes, variedades (como o music-hall, que conjugou dança, canto, tipos de comédia, em que algum deste material era visto como de baixa cultura, através de sketches, burlesco, entretenimento), desporto, publicidade e programas sobre o passado (ou recuperando formas antigas, como concursos). No território das novas formas, Williams destacou drama-documentário, educação, discussão (entrevistas), documentários e sequências (séries).
Recupero o subcapítulo de Williams sobre notícias (pp. 40-45). Nos tempos iniciais, a rádio estava absolutamente dependente das agências noticiosas (e dos jornais). A apresentação de notícias na rádio era feita por locutores, com voz neutra mas de autoridade. Na II Guerra Mundial, apareceram repórteres e correspondentes de guerra. Williams edita quatro perspectivas na relação entre o jornal e o boletim noticioso na televisão, o primeiro dos quais designou de sequência. Esta era dada pela coluna. Depois, a partir da década de 1920, implantou-se o modelo do mosaico, que leva o leitor a percorrer a página até se fixar num espaço. Na rádio, o modelo manteve-se linear, embora com a II Guerra Mundial tenha principiado a prática dos títulos, depois usada na televisão. A repetição dos principais pontos no final do noticiário também se tornou comum.
A segunda perspectiva é a das prioridades. A apresentação linear organiza a prioridade de itens noticiosos, que despertam a atenção. Durante muito tempo, essa prioridade era dada à alta política e ao realce nos actos e palavras dos líderes políticos. Mas houve necessidade de alcançar um público mais popular e mais vasto. A terceira perspectiva é a da apresentação. Até à II Guerra Mundial, o locutor tinha uma voz anónima mas com autoridade. Na televisão, a identificação pessoal é inevitável. Na televisão americana, é relevante a auto-apresentação do locutor. A última característica é a da visualização. Em muitos tipos de reportagem, há uma diferença absoluta entre registo escrito ou falado e registo visual com comentário. Há cada vez mais material visual na apresentação.
A televisão do século XXI tem outros elementos não trabalhados ou previstos por Williams, como a emissão permanente de televisão 24 horas por dia, em que não há apenas um só programa num só canal mas dezenas e centenas de canais por cabo, em que o espectador vagueia por esses canais num fluxo contínuo de notícias, concursos, desporto, filmes e publicidade.
Leitura: Raymond Williams (1974/2008). Television: Technology and Cultural Form. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 40-75
O autor, um dos fundadores do grupo dos Cultural Studies britânicos, viu a televisão como tendo uma dupla influência face a esses outros media: de um lado, combinação e desenvolvimento de formas anteriores, de outro lado, formas mistas e novas.
No primeiro conjunto, ele associou notícias, argumentação e discussão (vindos do sermão, da conferência, do discurso político, e de onde emergiu a representação da opinião informada), educação (seminários ou conferências com professores comunicativos que geram grandes audiências), drama ou teatro (em que no começo da década de 1950 houve um significativo corpo de novos programas, onde, além da qualidade, surgiram as soap operas, de grande popularidade), filmes, variedades (como o music-hall, que conjugou dança, canto, tipos de comédia, em que algum deste material era visto como de baixa cultura, através de sketches, burlesco, entretenimento), desporto, publicidade e programas sobre o passado (ou recuperando formas antigas, como concursos). No território das novas formas, Williams destacou drama-documentário, educação, discussão (entrevistas), documentários e sequências (séries).
Recupero o subcapítulo de Williams sobre notícias (pp. 40-45). Nos tempos iniciais, a rádio estava absolutamente dependente das agências noticiosas (e dos jornais). A apresentação de notícias na rádio era feita por locutores, com voz neutra mas de autoridade. Na II Guerra Mundial, apareceram repórteres e correspondentes de guerra. Williams edita quatro perspectivas na relação entre o jornal e o boletim noticioso na televisão, o primeiro dos quais designou de sequência. Esta era dada pela coluna. Depois, a partir da década de 1920, implantou-se o modelo do mosaico, que leva o leitor a percorrer a página até se fixar num espaço. Na rádio, o modelo manteve-se linear, embora com a II Guerra Mundial tenha principiado a prática dos títulos, depois usada na televisão. A repetição dos principais pontos no final do noticiário também se tornou comum.
A segunda perspectiva é a das prioridades. A apresentação linear organiza a prioridade de itens noticiosos, que despertam a atenção. Durante muito tempo, essa prioridade era dada à alta política e ao realce nos actos e palavras dos líderes políticos. Mas houve necessidade de alcançar um público mais popular e mais vasto. A terceira perspectiva é a da apresentação. Até à II Guerra Mundial, o locutor tinha uma voz anónima mas com autoridade. Na televisão, a identificação pessoal é inevitável. Na televisão americana, é relevante a auto-apresentação do locutor. A última característica é a da visualização. Em muitos tipos de reportagem, há uma diferença absoluta entre registo escrito ou falado e registo visual com comentário. Há cada vez mais material visual na apresentação.
A televisão do século XXI tem outros elementos não trabalhados ou previstos por Williams, como a emissão permanente de televisão 24 horas por dia, em que não há apenas um só programa num só canal mas dezenas e centenas de canais por cabo, em que o espectador vagueia por esses canais num fluxo contínuo de notícias, concursos, desporto, filmes e publicidade.
Leitura: Raymond Williams (1974/2008). Television: Technology and Cultural Form. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 40-75
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