![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfHxszbw-qIYUfFieKMkdKRdfYa-_Ml0wTphsqeGBXEL1zZPbdfOFVQzDWix9anYvMmLAnZn3g2YCz5qHGlHs9iIUItd3zCrXnpjGnjVnV-_xa4_JsvNqdj2-f5u0JMqgZyDtQ2w/s1600/scannell.png)
Para mim, o mais interessante é o seu discurso sobre a conversa (e a arte da conversação), nomeadamente nos anos iniciais da rádio e da televisão, quando a maioria da emissão era em directo (p. 104). Scannell analisa o programa radiofónico The Brain Trusts e questões importantes como falar em público, emissões com e sem guião, planeamento dos temas a discutir e sua condução ao vivo, sinceridade ao microfone e ontologia da voz. Esta aproxima o locutor ou seu convidado face ao ouvinte, personalizando ou tornando íntima aquela voz no altifalante da telefonia no lar de cada um.
Quanto à televisão, o autor estabelece uma comparação entre o programa americano Person to Person e o inglês At Home. A competência do locutor que entrevista em directo é relevada por Scannell, que nos leva à arte da conversação como foi cultivada desde o século XVII, em especial em França (p. 135). O objectivo do salão de cultura, frequentado por mulheres aristocratas interessadas em manter um serão agradável [Scannell não cita Habermas mas Craveri, The Age of Conversation, em 2005, texto que eu não conheço]. Igual valor têm a conversazione italiana, onde se discutiam arte, literatura e ciências, e o convite a "profissionais" da conversa, como Oscar Wilde na Grã-Bretanha, onde se dava a ideia do prazer espontâneo da troca de ideias num espaço. A conversa incluía anedotas e piadas sobre a época e os costumes. A rádio e a televisão recuperaram essas formas mais antigas de comunicação interpessoal e de grupo, do mesmo modo que adaptaram o olhar da câmara. Se o locutor olha a câmara de modo frontal é o renovar do espírito de contacto com o espectador (p. 149).
Scannell debruça-se ainda sobre a formatação do "ao vivo" e do uso de múltiplas câmaras de televisão na cobertura desportiva, empregues por exemplo na mostração de golos (ou uma falta grave), e a narrativa da catástrofe. Mas essa leitura fica para outra ocasião.
Leitura: Paddy Scannell (2014). Television and the meaning of live. Cambridge e Malden, MA: Polity, 264 p.
Sem comentários:
Enviar um comentário