É o título da peça em cena no Clube Estefânia (Espaço Escola de Mulheres Oficina de Teatro, Lisboa), em produção da Buzico, com texto e encenação de João Ascenso, cenografia de Francisco Peres e figurinos de João Ascenso e Ruy Malheiro. Prefiro a encenação à história: Mónica (Raquel Rocha Vieira) perdeu o marido, Henrique (Pedro Barroso); este gostara anteriormente de Luísa (Isabel Guerreiro); Jorge (Ricardo Lérias) era amigo de ambas e confessara um dia que gostava de Henrique. Não era um triângulo, mas um quadrado. Amigas desde a infância, na adolescência e como jovens adultas Mónica e Luísa brincavam a trocar namorados e a classificá-los, como se fossem coisas ou joguetes nas suas mãos. Depois, Henrique apareceu, começou a gostar de Luísa mas apaixonou-se por Mónica, com quem casou. No dia do acidente que o vitimou, ele telefonara a Luísa e levava no casaco uma velha fotografia com ela. Rompera com Luísa e queria voltá-la a ver muito. Isto é revelado ao longo da história.
Na história, a viúva Mónica aparece doente e encerrada em casa há um ano, sem capacidade de fazer sequer um lanche, com o apoio desvelado de Jorge. Quando chega Luísa, desfaz-se o desequilíbrio - ela considera Mónica de boa saúde e Jorge obstinado e vítima. Chama-lhe porteira com algum carinho mas desata logo a reprovar o seu comportamento. Henrique, morto e amado/odiado passeia-se pelo palco como um fantasma, narra partes da história para a compreendermos melhor. Cada personagem fala com os espectadores, a narrar a sua perspetiva e segredos, com a luz (de Paulo Santos) focada nas suas palavras, deixando as outras personagens no escuro e em suspenso. Luísa vem também até à janela, a realçar a sua posição. No fundo, os três amigos são viúvos e suspensos nas suas memórias, que procuram levá-las até à eternidade. Jorge, aparentemente o elemento mais frágil, seria o guardador dessa memória. Quando todos compreendem que a situação se torna insustentável, pelas contradições que encontram e pelos segredos contados finalmente, voltam à antiga amizade e à vida. A janela aberta por Luísa com a ajuda de Jorge é a imagem mais bem conseguida disso.
João Ascenso, que terá imaginado como se pode perder alguém que se ama, olhou agora, quando preparou a encenação, o texto com estranheza. Porém, encontrou sentido nessa travessia.
Retiro da página do Facebook de Isabel Guerreiro as suas impressões sobre os colegas de representação: "Ricardo Lérias, meu mestre na vida, orientador de tanta coisa. Protector. Amigo. Companheiro. E agora voltamos juntos a palco. Da primeira vez que o fizemos sentimos a faísca. Agora fazemos faísca... «porteira»! Pedro Barroso, tu nem tens noção da enormidade que és como actor. E do quanto me tens dado. Pequenas trocas de olhar, muito rápidas porque não podemos mais, têm sido o bastante. Obrigada! João podes escrever uma coisa que eu possa olhar para o Pedro de frente e usar esta enormidade dele? Obrigada!
Raquel, não é fácil de repente subir a um palco e uma desconhecida ser a tua melhor amiga que te traiu mas que tu amas perdidamente na mesma. Mas foi. E porquê? Porque tu estás ao meu lado e fazes a Mónica. Não receies. A tua entrega diária mostra bem o que és. Todos os teus mimos são um bálsamo. Vamos fazer isto de mãos dadas".
Sem comentários:
Enviar um comentário