Ontem, nas comemorações de 25 de abril de 1974, uma das ideias centrais dos discursos políticos foi liberdade de expressão. Mas a data não identifica apenas a formação de partidos ou movimentos políticos. O período foi cheio de surgimento de entidades, de associações de caçadores e de profissionais de golfe, associações de moradores e de pais em escolas secundárias, cooperativas culturais, de consumo e de habitação, editoras e livrarias a sindicatos, confissões religiosas (Testemunhas de Jeová, Baha'is, evangélicas), clubes físicos e espirituais orientais (judo, karaté, ioga) e associações artísticas.
A Associação Portuguesa de Evangelização (registo notarial de 5 de março de 1975) tinha no seu segundo artigo o objeto: "fomentar a proclamação do evangelho de Jesus Cristo, através da pregação pública, distribuição de literatura, emissões radiofónicas e televisionadas, exibição de filmes e outros meios". A Arco - Centro de Arte e Comunicação Visual (registo notarial de 27 de janeiro de 1975) propunha a "atividade de promoção, divulgação, experimentação e ensino das artes visuais, de desenho de equipamento e ambiente, das artes gráficas, comunicação visual e animação cultural, assim como das artes em geral, e ainda a prática de quaisquer outras manifestações culturais e de investigação". Se os estucadores formaram a Artistuque - cooperativa operária dos estucadores associados do Barreiro em registo notarial de 10 de dezembro de 1974, o Grupo Recreativo Zip-Zip da Fomega (freguesia da Caparica, concelho de Almada, registo notarial de 24 de março de 1975) tinha como objetivo "promover o recreio dos seus associados através de récitas, festas recreativas, saraus, bailes, jogos lícitos e teatro amador".
De repente, o mundo parecia em expansão total. Em que as indústrias culturais e criativas, a arte, a comunicação e o entretenimento brotavam energicamente. Chamo a atenção para pormenores não despiciendos - conceptual (grupo profissional operário do Barreiro promove uma cooperativa para elevar a sua atividade à categoria de arte) e legal (o termo lícito aplicado a jogos indica a existência de uma fronteira que o grupo recreativo de Almada quis traçar).
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