Retiro e sigo literalmente (transcrevo) a informação preparada por Rita Correia para a
Hemeroteca Digital:
"Faça da sua pena de jornalista uma agulheta para desencardir as maquilhagens da hipocrisia, da hipocrisia que artificializa a honra e oculta o crime, do crime que consegue a impunidade subornando ou ferindo. É esta a mais doirada gloria da imprensa, o mais digno orgulho do jornalista (...) alguem cuja vida é um continuo triturar de almas e de vidas, sem escrúpulos nem piedade; (...) vingar as vítimas e abrir os olhos aos iludidos, revelar a verdadeira personalidade do bandido com a certeza que nem o suborno nem o mêdo nos desviarão do caminho traçado – que apoteose dentro da nossa consciência! Que admirável profissão a que nos concede essa orgia de bem!"
Estes Conselhos a um futuro jornalista poderiam ser o manifesto pessoal de Reinaldo Ferreira (1897-1935), uma das mais interessantes e complexas figuras do jornalismo português, o famoso Repórter X, cujo projeto editorial homónimo - Repórter X : Semanário das Grandes Reportagens - está agora disponível na Hemeroteca Digital, com algumas falhas.
Nas suas páginas, crimes financeiros e de sangue, fraudes, negócios sórdidos, casos de espionagem, investigações policiais, escândalos com vultos famosos, paixões proibidas, personalidades e acontecimentos históricos marcantes e fraturantes, projeções futuristas, dramas sociais, questões civilizacionais, horrores da guerra, catástrofes naturais e grandes desastres, revoluções e conspirações, servem de base a textos onde a investigação jornalística se cruza com a ficção, resultando as reportagens num produto híbrido, perfeitamente assumido: "Quando não rigorosamente exactas em certos pormenores, são-no na essência. Por vezes, a linguagem de que as revestimos, os nomes supostos que lhes arranjamos, e a sucessão melhor combinada de certos quadros, são como os vestidos e os adornos para certos corpos de mulher – embelezam-nos sem lhes alterarem a linha impecável e escultural."
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