sábado, 28 de maio de 2016

Último dos românticos

Ele tem 55 anos, está casado há 31 anos e é dono de um restaurante de peixe. Apesar da estabilidade económica e psicológica, tenta uma aventura, tipo romântica e pura. Faz três tentativas. O local de encontro é o andar da mãe dele.

A primeira mulher conheceu-a no restaurante, mas revela-se rapidamente muito carnal e pouco espiritual. Faz uma constante alusão ao tique dele: aproximar os dedos das mãos ao nariz a ver se o cheiro a ostras desapareceu. Ele tem apenas uma garrafa de uísque mas ela precisa de fumar, para evitar ataques alucinantes de tosse. Ela sai mas volta para recomeçar, acabando aos insultos.

A segunda mulher é uma psicopata, temendo os olhares de todos mas achando-se ter um perfil de artista de sucesso. Enquanto conta histórias cada vez mais violentas e angustiantes, leva-o a fumar um charro. A terceira mulher é amiga de família, à beira de uma separação. Mas admite logo que não quer ter uma relação com ele por o não achar atraente. É igualmente uma conversa repleta de estranheza, com tiques de novo à vista, com ela a não se libertar da sua mala, obrigando-o a ele a arrancar. Parecia que a conversa não podia prosseguir enquanto ela não a abandonasse.

As tentativas são um fracasso, porque não acontece(u) nada. Ele telefona à mulher para uma conversa a dois. A liberdade a que ele se propusera não o levara a nada romântico e puro, mas a uma reflexão sobre os motivos que levam cada indivíduo a tomar as decisões que toma sem que o(s) outro(s) compreenda(m) bem. Logo, as relações humanas são muito complexas e as situações não se repetem.

A peça O Último dos Românticos, de Marvin Neil Simon (1927), dramaturgo muito conceituado nascido no Bronx em Nova Iorque, esteve para ser representada há muito. A tradutora Teresa Lacerda entregara a peça a João Mota no final da década de 1970 para ser representada por Raul Solnado. Mas a peça tinha direitos de representação de alguém, pelo que só agora entrou no repertório da Comuna Teatro de Pesquisa e faz parte dos 44 anos de existência do teatro. A interpretação pertence a Carlos Paulo, Margarida Cardeal, Maria Ana Filipe e Maria Vieira.

1 comentário:

M,Franco disse...

Uma excelente peça, com quatro interpretações
brilhantes. A não perder para quem gosta de
bom teatro.